Eugenia Melo e Castro

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Passado, Presente e Futuro

"É freqüente alguém dizer que meu passado foi brilhante, que abri espaço para que fossem escritas as páginas mais importantes da história da MPB. Mas existem aqueles que ainda aplaudem o passado como presente. Essas pessoas não sabem que quando presente, meu passado era o futuro e foram poucos naquele então presente que acreditaram nos caminhos que eu indicava.

Hoje, quando aponto e propondo mais uma vez o futuro, como no passado, olham com desconfiança e não acreditam quando afirmo que o futuro já está presente. Bem aqui, na nossa frente. A fila tem que andar. Chega de saudade!".


* * * * *

RÁDIO CULTURA BRASIL - AM - 1.200 Khz
on line
http://www.radioculturabrasil.com.br

* * * * *

Domingo 29/11/2009 - 14 hs.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O muro da Granja Viana

Ainda com os ecos da comemoração pela derrubada de um muro, o de Berlin, a Granja Viana se prepara para conviver segregada por outro que vai ocupar alguns quilômetros ao redor da nefasta Alphaville cujos terrenos foram vendidos em poucas horas tendo como ponto de venda o convívio com uma natureza que, na seqüência, destruiu. Chame o ladrão!

sábado, 31 de outubro de 2009

Afeganestar

Ser ou não ser...
eis a questão.
Como explicar ao Afegão
à que estão?

Como explicar a questão:
ser ou estar...
Afeganestar...
Porque então estar?

Por Star...
Stars and stripes forever!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Eles tentam...

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

2016

Rio

Ah...ver o Rio de Janeiro,
de março a fevereiro.
Ver do Rio de Janeiro
o Pão de Açúcar de cada dia,
a barca de cada hora,
a Guanabara...a ponte...
Aérea ponte dos negócios,
onde partem e repartem
o Galeão e Santos Dumont.

Ah...ver o Rio de Janeiro,
que o mundo inteiro sonha ver,
lindo, sambando, rindo,
cantando a garota que passa...

Copacabana,
onde os pretos são gatos
as gatas mulatas,
onde a moça marrom na calçada
rebola suada, insaciada.

E o barquinho vai...
pela lagoa do Cristo,
enquanto a puta copula,
misturando línguas
trocando vírus à beira mar.

Ah...ver o Rio de Janeiro
da barra, do morro, do aterro,
da vela do atropelado,
do samba, da moça pelada
no alto da alegoria...

Alegria!...Alegria!!!

Solano Ribeiro
2009

domingo, 4 de outubro de 2009

O Rio de Janeiro continua lindo...

Nunca jamais na história deste país essa frase foi tão coerente e apropriada. Todo mundo chorou. Eu chorei, tu choraste, ele chorou. E justificou. E cobrou. Com razão, o mundo seria melhor se presidentes chorassem. Obama pelo Afeganistão, Putin pela Geórgia, Sarkosy pela Carla e o Rafale, Cristina pela Argentina que não precisa chorar por mim. Aí, tem gente que resmunga; “vai ter muita mutreta”. A grana olímpica vai rolar do jeito que a gente já sabe: Ouro, prata e bronze para o bolso de muito empreiteiro. “Obras atrasadas!”. “Necessária revisão dos orçamentos!”. “O governo vai ter que bancar o atraso!” - “Copacabana princesinha do mar...” - Gente de todo o mundo vai ocupar as calçadas do Rio e a grana rolará solta. Que com chama olímpica acesa ou apagada rolaria sem a contrapartida de mostrar serviço. Alguma obra deverá que ser concluída. Fico pensando no Fernando Meireles. Em termos globais fez fama e fortuna por mostrar que a cidade de Deus é inabitável. - “Rio que mora no mar...” - E com seu talento e competência foi quem convenceu os gringos que na cidade do Cristo está o melhor povo do planeta para acolher as disputas de 2016. Depois das eleições de 2010, da Copa de 2014, mesmo ano de mais eleições que deverão trocar prefeitos, governadores, presidentes, vereadores, deputados estaduais, federais e senadores. Além de temas das escolas, que para aproveitar o embalo vão produzir enredos coerentes com os acontecimentos a acontecer. Até algum litro do petróleo do Pré-Sal deve aparecer em anúncios na televisão. Mas é isso aí. Aquí o lema olímpico não deverá sair sem um toque que retrata o espírito do momento neste país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza: Importante não é competir, importante é vencer! À qualquer preço. Afinal, quem paga a conta é você.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Pra não dizer que não falo de festivais...

Os grandes festivais do passado abriram precioso espaço na televisão para novos músicos, cantores e compositores que até hoje são considerados o que de melhor existe na MPB, sigla também originada naqueles eventos. Os trabalhos apresentados serviam de referência para os novos que tinham a oportunidade competir em igualdade de condições com artistas já consagrados para uma platéia atenta e participante, num espaço ideal para experimentações e novas propostas que provocaram a maior evolução que aconteceu na música popular brasileira em décadas.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Solano Ribeiro e a Nova Música do Brasil

RÁDIO CULTURA BRASIL - 1.200 kHz
http://www.radioculturabrasil.com.br/
*
OS CAMINHOS DA PRODUÇÃO INDEPENDENTE

*
DOMINGO - 29/11/2009 - 14h00.

sábado, 12 de setembro de 2009

CataVento 2009


Para comemorar mais um aniversário na Rádio Cultura Brasil, o programa Solano Ribeiro e a Nova Música do Brasil premiou os melhores da produção independente, entre mais de 700 números veiculados no decorrer do terceiro ano do programa.
*
Os premiados vão receber da Rádio Cultura Brasil o Troféu Cata-Vento, idealizado por Solano Ribeiro e confeccionado pela artista Valéria Lotufo.
*
Trabalhos Premiados:
* * * * *
Melhor CD Instrumental - Pop Choro -
Armandinho Macedo
*
Melhor CD Hip Hop - Non Ducor Duco - Kamau
*
Especial - Antonio Pinto
*
Melhor Grupo Vocal - CD BeBossa - Conjunto Vocal BeBossa
*
Melhor CD Pop - Meridianos - Banda Was
*
Melhor CD de samba - O que se passou - Max Sette
*
Melhor CD de música raiz - Manto dos Sonhos - Renata Rosa
*
Revelação - Banda 2ois - Leonardo Ramos e General Sih
*
Melhor Cantor - CD Olhar Diferente - Zé Alexandre
*
Melhor Cantora - CD Recomeço - Virgínia Rodrigues
*
Melhor CD - São Mateus não é um lugar assim tão longe - Rodrigo Campos
*
Música do Ano - "Feltro no Ferro" - Carlos Careqa e Chico Mello


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Solano Ribeiro e a Nova Música do Brasil

"É freqüente alguém dizer que meu passado foi brilhante, que abri espaço para que fossem escritas as páginas mais importantes da história da MPB. Essas pessoas que ainda aplaudem o passado como presente, não sabem que quando presente, meu passado era o futuro e foram poucos naquele então presente que acreditaram nos caminhos que eu indicava.

Hoje, quando aponto e propondo mais uma vez o futuro, como no passado, olham com desconfiança e não acreditam quando afirmo que o futuro já está presente. Bem aqui, na nossa frente. A fila tem que andar. Chega de saudade!".
* * * * *
RÁDIO CULTURA BRASIL - AM - 1.200 Khz
on line
http://www.radioculturabrasil.com.br
* * * * *
Domingo 22/11/2009 - 14 hs.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Tudo passa...

A garota passa com graça
O tempo passa inexorável
O trem passa apitando
A bicha passa rebolando

A velha passa devagarinho
O carteiro passa entregando
O homem passa estressado
O motoqueiro passa zoando

A maneca passa desfilando
O cachorro passa latindo
O ladrão passa correndo
A polícia passa atirando

O cavalo passa galopando
A menina passa chorando
O ônibus passa lotado
O táxi passa e não para


Roberto passa reinando
Felipe Massa passa...passa
Pelé passa sorrindo
Gisele passa engordando

Tudo passa

Até a vida também passa

Só o Sarney vai ficando...

Solano Ribeiro

domingo, 23 de agosto de 2009

Comunicar. [ do lat.communicare ]

Comunicar é:
1- Participar 2- Por em contato ou relação; estabelecer comunicação entre; ligar, unir 3- Fazer saber 4- Estabelecer relação 5- Transmitir, difundir 6- Pegar por contágio 7- Dar; conceder, doar 8- Conferir 9- Dar passagem 10- Entender-se, tratar 11- Convíver, conversar 12- Tornar-se comum, transmitir-se, propagar-se 13- Pegar 14- Travar ou manter entendimento; dialogar.

domingo, 16 de agosto de 2009

Os políticos e as fraudas...

Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.”
*

Eça de Queiroz

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Eles não sabem...

Eles não sabem.
Eu sei que eles não sabem e
eles não sabem que eu sei.
Eles não sabem o que sei.
Não sabem, mas eu sei

o que eles não sabem.

Solano Ribeiro

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O BIGODE DO PANACÁ

A sala Vip do aeroporto estava tranqüila até a entrada daquele bigode imenso. Sua simpatia contagiante arrancava sorrisos de quem seu olhar escolhia como alvo. Depois de virar num gole a primeira dose do scotch, com sorriso maroto segurou a mão do garçom forçando uma generosa segunda dose. Se espalhou numa poltrona e iniciou uma série de ligações em seu minúsculo celular. Falava alto numa linguagem cheia de sotaques onde um acento hispânico predominava.

Ao me instalar na primeira classe pensando mergulhar nas minhas leituras tive certa preocupação quando o chefe da equipagem apontou poltrona do meu lado àquele bigode. “Adeus sossego”...
- Óla, foi a chegada com o sorriso previsível.
- Alô, minha lacônica resposta tentando me esconder atrás do livro.
O bigode continuou:
- Como nossotros vamos passar la noche juntos é melhor que nos apressentemos. Eu sou Luis Jorge Penaforte. Soy senador y estou em missão secreta. Mas como para ustedes brassilenhos isto não tem la
menor importância jo voy logo abrindo el juego. Yo soy panaquenho.
- Panaquenho?
- Sy, soy Senador del Panacá.
- E o que é o Panacá.
- Un pais maravijoso que fica entre a Patagônia y el Canadá.
Como o mapa-múndi tem mudado tanto ultimamente achei que alguma revolução havia criado mais um paiséco num dia em que eu não tinha
lido jornal.
- E quantos habitantes tem o Panacá?
- No sabemos.
- Como não sabem?
- É uma opcion política para que não nos percamos en cálculos infindáveis del PIB, inflacion, balanço de pagamientos. Todo esto
no tem la menor importância.
- Como não tem importância? E como vocês administram sua economia?
- A nossotros não nos preocupa la economia. Tenemos o Banco
del Panacá que supre las necessidades de todos y esso nos deixa tranquilitos.
- Como assim?
- Bueno, en el Panacá no existe moneda, cada um compra lo que necessita y paga com cheques ou credit cards que son siempre cubiertos pelo Banco del Panacá. No hay problemas. Acaba siempre dando certo.
- Então não existem cheques sem fundos?
- Claro que no. Tudo pertence a todos. Solo es necessário tener lo cuidado de não gastar todo el salário máximo.
- Salário máximo?
- En todos los paises los trabajadores vivem lutando pelo salário mínimo, cierto? En El Panacá decidimos abolir el salário mínimo y criamos el máximo.Verdad que una grevita o otra siempre acontece,
mas, en geral todo mundo consegue lo que quiere.
- E funciona?
- En el Panacá, todo funcciona, acrescentou orgulhoso.

Neste ponto o avião começou os preparativos para a partida. Percebi meu companheiro de viagem um tanto indócil, parecendo procurar alguém à bordo. Então me segredou:
- Estoy viajando com um passaporte falsificado.
- Passaporte falso, porque?
- En el Panaca todos los ciudadanos tienen que tener bigodes. Un inventor panaqueño desenvolveu un sistema revolucionário de identificacion quando descubrió que no existe um bigode igual al otro, entonces el bigodes fue oficialissado como a parte a ser considerada para efecto de identificacion en los documientos. Es mui mejor que las impressiones digitales, por esso en las fotos de los passaportes panaqueños estan nuestros bigodes ampliados. As veces esto causa alguma confusão quando vamos entrar em ciertos países.
- E as mulheres?
- Las mujeres, quando van a tirar passaporte, colocam um bigode postiço oferecido pela migracion.
- Fornecidas pela migração?
- Usted sabe, los panaqueños viajan muito y siempre acompanhados, somos muy amorosos, então para evitar constrangimiento, la migracion fornece o bigode a ser fotografado pela mujer viajante. Abaixando a voz acrescentou com os olhos brilhando:
- Yo mismo, neste preciso instante, estoy acompanhado de uma secretária. Ela está en la classe executiva para no dar en la vista.
- A migração fornece o bigode? E como elas são diferenciadas?
- Aí está o segredo. Es lo mismo bigode para todas las mujeres.
No hay diferencia, assim se pode viajar tranqüilito com quem quiera.
- Ah entendi. Mas porque o passaporte falsificado.
- Usted sabe, a idade vai deixando los pelos blancos. É una gatona, então eu tingi o bigode, o que é proibidíssimo en el Panaca. Mas como escolhi voltar no meio da semana creio que não terei problemas.
- E porque?
- É que la equipe econômica, num lance genial, estabeleceu que los dias utiles são somente en sábados y domingos, com isso enganamos
a los países que estão descansando enquanto nossotros trabajamos duro. Para compensar, descansamos un poquitito mas en los otros dias
trabajamosduríssimo
.
Viva el Panacá.
Solano Ribeiro
2009

terça-feira, 7 de julho de 2009

Michael Jackson em São Paulo

Era eu diretor da Rede Tupi de Televisão quando recebi oferta de "Especial" com os Jackson 5. De graça. A gravadora queria promover o bando e um programa de televisão estava nos planos. A Tupi então detinha media de 25% no Ibope o que correspondia à metade da Globo já líder, que não se interessou. Única exigência: Liberar o menorzinho até às dez da noite. Para cumprir alguma lei americana e prevenir abusos com o pequeno Michael, uma negona parruda, elegante e sorridente, porém severa juíza de menores acompanhava o grupo. A Tupi tinha somente três câmeras collor. De tarde gravavam novelas nos estúdios de baixo. Subiam para o Jornal, apresentado ao vivo pelo Ferreira Martins e eram levadas para o auditório para os programas da linha de shows. E somente depois dos inevitáveis ajustes nos equipamentos, necessários depois de tantas horas ligados. Impossível terminar no horário. Até mesmo começar antes das dez. Percebendo a demora, a juíza passou a pressionar a produção. Em inglês. Mario Araújo, na época assessor da presidência, jogava todo seu charme e conhecimento shakespeareano sobre a imensa senhora na tentativa de conquistar sua simpatia. Tupi or not Tupi? Nove e meia e nada. Depois de demorado tour pelas dependências congestionadas da emissora para constatar nossa subdesenvolvida mas, simpática competência, apesar de envaidecida por gentilezas que jamais deve ter sido alvo na sua terra, com grande sorriso ameaçava melar a gravação. Afinal, era paga para proteger o moleque. Dura Lex Sed Lex. Não tem papo... Mario lançou sua última cartada:- "Minha Senhora, de maneira alguma queremos que deixe de cumprir com sua missão. Apenas que seja maleável quanto ao fuso horário. Onde é sua jurisdição?"- "L. A. California". No que Mario, rápido no gatilho concluiu:- "E que horas são agora em Los Angeles? "A gargalhada americana ecoou pelos Altos do Sumaré deixando enorme suspense quanto a sua decisão. Que veio depois de prolongado silêncio: -" Well you dirty sun of a bitch...mas se passar de onze e meia não tem mais conversa. This Is It". Às onze e vinte e nove, os últimos letreiros da ficha técnica davam por encerrada a gravação do programa com Michael, dos Jackson Five.
Solano Ribeiro

Motoqueiros...A solução é simples

De como a tolerância a uma infração, aliada a interesses comerciais, se transformou em problema social.

Quando da aprovação pelo então Presidente FHC do atual Código Brasileiro de Trânsito, o artigo 56 do texto original proibia a passagem de motos entre os veículos em circulação.Como no mundo inteiro. A indústria da moto e seus revendedores, que não poderiam ficar à mercê de um simples artigo a atrapalhar o seu negócio de bilhões, através de lobies e com provável “pedágio” conseguiu cortar do texto final a obrigatoriedade da moto ocupar seu antigo espaço. Passou a ser permitido que trafegasse pelo corredor entre os carros. Foi o sinal verde para que o inferno se instalasse nas ruas das grandes cidades brasileiras. A partir de então, a frota cresceu de tal maneira que verdadeiro enxame de motoqueiros tomou conta das ruas sendo a maior responsável pela deterioração da qualidade do ar, pois poluem 32 vezes mais que os carros emitindo 13,8% do monóxido de carbono. Além da poluição sonora causada pelas irritantes buzinas.
As estatísticas estão aí: morre pelo menos um motoqueiro a cada dia só na cidade de São Paulo, onde não são computados os que morrem nos hospitais, nem pedestres atropelados por motocicletas. Sem contar as centenas de casos que passam despercebidos, sendo notados apenas por aqueles que testemunham de perto a atividade do resgate a atrapalhar o seu caminho ou, pelo rádio, nas informações sobre o trânsito da cidade. São números inadmissíveis para um país civilizado. É nas ruas, no trânsito, que o cidadão mantém o seu contato mais íntimo com a organização da sua comunidade, com a eficiência do seu governo. Quantas vezes não ouvimos amigos citarem, cheios de admiração e como exemplo de ordem e progresso o rigor das leis de trânsito nos países por onde passaram. Mesmo tendo sido eles próprios admoestados ou até punidos, por alguma infração corriqueira cometida.
O Código de Trânsito, no primeiro momento obteve o apoio da maioria da população, mas com o tempo foi desmoralizado pela falta da capacidade de administra-lo, ou como tudo neste país, foi deixado de ser levado a sério. Da mesma maneira que para disciplinar o uso dos espaços na propaganda ao ar livre com “tolerância zero” é preciso acabar com a guerra que se instalou nas grandes cidades simplesmente com a revisão do Código Brasileiro de Trânsito fazendo voltar o artigo 56 que iria colocar motos e motoqueiros nos seus devidos lugares. E salvar vidas.

Qualquer dia algum vereador vai propor que se crie, (se é que já não existe), o Dia do Motoboy. Provavelmente aproveitará a ocasião para anunciar, em homenagem aos que morreram no trânsito, a abertura de licitação para a construção do monumento ao Motoqueiro Desconhecido.
(Dê sua opinião)

Solano Ribeiro



Cozette

Estrela do Palladium,
era a gostosa da foto.
Qualquer coisa,
uma coisinha
uma Cozette qualquer...
A luz do primeiro ato.

Na linha de frente das pernas,
sublimes coxas, vibrantes,
balançavam o coração de tantos...
e quantos...
da primeira a última fila
pagavam o show barato.

Nada mais acontecia
quando Cozette dançava.
A Cozette que sorria
Cozette, a que brilhava.
E a galera ululava
enquanto Cozette dançava...

No bastidor zoneado,
sozinho, apaixonado,
o garçom curtia o prêmio
que toda noite esperava:
Numa fresta do camarim
a visão do entreato,
com cheiro de pó de arroz
e a bundinha empinada
Cozette ensaiava no espelho
o sorriso retocado.

...e voltava ainda suada
buscando a luz que rasgava
a nuvem de fumo num facho.
E enquanto o maestro enfezado
regia cadeiras arrastadas,
o bêbado gritava:
- Dança Cozette gostosa
você vale uma briga em casa.

Entravam todas juntas
todas iguais, enganadas,
pois ninguém mais aparecia
quando Cozette dançava.
Só Cozette, a que sorria
Cozette que a todos amava.

E a galera ululava,
enquanto Cozette dançava...

domingo, 5 de julho de 2009

O colecionador de calcinhas

Perturbado pelo cheiro forte da tinta Juca deixou para o dia seguinte o pára-lamas que faltava para terminar a pintura do velho carro vermelho. Como fazia todo fim de tarde num salto se pendurou na porta da oficina que desceu com seu peso. Depois de trancá-la seguiu para casa. Meia hora de caminhada pelas ruas empoeiradas da pequena cidade. Às vezes achava mais divertido seguir pelos terrenos baldios ao redor das mansões, onde vez por outra, parava para observar furtivamente o que acontecia na intimidade da gente rica da cidade. Se um cão mais atento ameaçava denunciar sua presença, num gesto rápido, fingia apanhar uma pedra no chão e atirar na direção do animal, que quase sempre, saia ganindo em disparada. A tinta ainda fazia seu efeito, mas agora, a sensação era agradável. Lembrava o tempo de garoto quando cheirava cola com os moleques da rua. Caminhou na direção à Casa Amarela. Casa térrea com grande varanda na frente. Lá, morava a garota linda que não conseguia esquecer. Loura, queimada de Sol, riso debochado, cujos dezessete anos freqüentava suas fantasias solitárias. Mas tinha estranho respeito por ela. Talvez pela autoridade que sua mãe transmitia. Quando cruzava com ela pelas ruas, que nem sequer notava sua existência, Juca sentia um frio na barriga que não conseguia explicar.
Naquela tarde, por detrás da Casa Amarela, gigantesca bola vermelha no horizonte trouxe, num relance, a lembrança das tintas com seu cheiro perturbador. Ao passar pela casa ouviu a voz retumbante da poderosa mulher:
- Aninha, me traga a toalha que ficou em cima da minha cama!
Juca sentiu um “negócio esquisito". Entrou pelo terreno ao lado procurando não ser notado. Um tremor tomou conta do seu corpo e a excitação quase o fez perder o controle. Pela janela de um dos quartos com a luz apagada, pode ver a porta do banheiro entreaberta, por onde através de nuvem de vapor, grande espelho iluminado refletia o perfil embaçado de mulher nua. Juca mal conseguia respirar. A luz do quarto foi acesa. Um corpo monumental entrou enxugando os cabelos. Foi um momento de êxtase. A bela mulher estendeu uma toalha vermelha sobre a janela e retornou ao banheiro. Pouco depois voltou ainda nua e sobre a toalha colocou uma calcinha de seda preta. Parou diante do espelho da penteadeira, onde passou algum tempo a ajeitar os cabelos molhados e tornou a desaparecer no vapor. O rapaz ficou atordoado. Queria que o tempo houvesse parado. Tentava relembrar tudo o que havia visto e ainda tremia muito quando sentiu a cueca empapada. Movido por estranho comando, pulou a cerca viva que o separava da janela, pegou a calcinha molhada que num relance guardou debaixo da camiseta. Vencendo novamente a cerca correu sem parar com o coração quase explodindo. Já na rua, sentindo segurança tirou a calcinha de junto ao peito, colocou-a sobre o rosto e curtindo o cheiro de gente rica que o sabonete havia deixado desandou a gargalhar de felicidade. Tinha vontade de voltar. Queria ver de novo o corpo nu daquela mulher maravilhosa. Ter certeza de que não havia sido um sonho. Deitou em sua cama no cubículo onde morava só e levantando o troféu de seda preta sentiu pela primeira vez uma sensação de verdadeira conquista. Aquela calcinha lhe pertencia.
Na manhã seguinte acordou bem cedo. Precisava terminar a pintura do carro vermelho. Evitou passar pela casa Amarela. A casa da Aninha, de quem agora sabia o nome. Parecia ter cometido uma traição. Justo a calcinha da sua mãe! Um certo remorso ficou a perturbá-lo naquela manhã. Ao longo do dia o cheiro das tintas provocando alguma confusão em sua mente trazia a lembrança da aventura do dia anterior. Um misto de sonho e desejo. Mais uma vez aquela sensação esquisita que fazia com que perdesse totalmente o senso. Sua excitação foi tanta que por duas vezes se refugiou no banheiro da oficina. Numa delas gemeu tão alto quando gozava que o patrão do lado de fora perguntou se estava passando bem:
- Não é nada não. É a barriga que anda meio atrapalhada.
No fim da tarde o céu foi encoberto por nuvens de chuva que acabaram por desabar sobre a cidade. A expectativa de voltar à Casa Amarela ia água abaixo. Literalmente. Melhor ir de ônibus. Lotado. Depois de passar a duras penas pela catraca do cobrador conseguiu um ponto de equilíbrio ao lado de duas noviças, acompanhantes de uma freira, que sentada, se concentrava num pequeno livro. Uma das noviças, morena de cara bonita, ao vê-lo abriu grande sorriso. Tão insinuante que deixou Juca desconcertado. Com o chacoalhar do ônibus ela foi chegando. Se encaixou de bunda e o espremeu contra o ferro de um dos bancos com tal força que chegou a machucar suas costas. A primeira reação, apesar da dor, foi se desculpar, tentar sair daquela prensa. Mas, a moça se esfregando cada vez mais acintosamente não o deixava sair. No princípio ficou com medo do que os outros passageiros iriam pensar. Era ele a encoxar a noviça. Foi quando o tal "negócio esquisito" tomou conta de sua cabeça. Com cuidado para que ninguém notasse, levantou o hábito da garota, meteu a mão entre as suas pernas e foi subindo até ter sua bunda na palma da mão. Sentiu a calcinha da agora assustada e excitada noviça e com um puxão arrancou a peça que um relance, entre o ruído de tecido rasgado e o estalo do elástico se rompendo, foi parar no seu bolso. A noviça se afastou procurando dissimular a surpresa com um sorriso indecifrável. Algumas paradas depois elas desceram. Entre risos e gritinhos nervosos das meninas as três se perderam no aguaceiro. Aproximou a calcinha do rosto como se fosse um lenço e curtiu o cheiro íntimo da morena.
Sábado, dia sem atrativos. A noite pior ainda para quem não tem amigos. Costumava se perder na multidão que ocupava a praça da Matriz. De vez em quando dava umas voltas pela zona. Só para paquerar. Até chegava a se divertir fingindo negociar com as putas. Mas não tinha coragem de transar. Morria de medo de pegar alguma doença, tanto a mãe o alertara dos perigos da vida liberada. Órfão de pai, pressionado pela super proteção da mãe, sempre viveu isolado. A solidão na verdade não o incomodava. Era feliz com a liberdade em que vivia. Quando às vezes alguma garota o impressionava sentia certa melancolia. Mas sua timidez era barreira que não conseguiria romper. Quase sempre nas noites de sábado, depois de algumas voltas pela cidade ia cedo para o barraco conviver com seus fetiches.
Aquele dia não parecia ser diferente. Acordou tarde e saiu sem destino. Grande armação num terreno próximo ao centro chamou sua atenção. Imenso palco era erguido. Anunciavam para aquela noite a apresentação de famosa dupla caipira. Como qualquer coisa que quebra a rotina de cidade pequena, curiosidade geral. Uma quase multidão acompanhava o trabalho da montagem. Grandes caixas de som testadas faziam prever o alvoroço que aconteceria no pedaço. Câmeras em altas torres eram ligadas a imenso carro com cores e logotipo de importante rede de televisão. Atrativo irresistível. Juca não conseguiu sair do local. Queria ficar bem perto dos artistas. O show, marcado para as oito da noite, mas assim que foi escurecendo uma quantidade de gente como ele nunca poderia ter imaginado se espremia junto ao palco. Pouco antes das oito o aperto era sufocante, quase insuportável. Se quisesse sair não conseguiria mais. O empurra-empurra transformou aquela gente em maré humana que se agitava em ondas sem nexo, povoada de risos, gritinhos de deboche e histeria. Uma fumaça branca como neblina com cheiro de glicerina tomou conta do palco. Luzes. De um brilho nunca visto. A gritaria foi crescendo até que o som explodiu abafando o ruído da platéia maravilhada. Empurrado de um lado para outro Juca se deixava levar. Era impossível contrariar o movimento daquela massa humana. Na verdade achava até divertido. De vez em quando uma bunda mais volumosa passava. Era mão de todo lado. Aquele mar de gente ia se agitando e cantando ao ritmo das violas elétricas e dos refrões: "E se de dia a gente briga, de noite a gente se ama. É que as nossas diferenças acabam no quarto em cima da cama..." Foi quando um rosto conhecido apareceu por um instante no meio daquela zorra. Aninha. Aos empurrões Juca foi chegando mais perto. Ela e uma amiga curtiam o espetáculo. Com muita dificuldade Juca se aproximou. No palco, a música rolava: "Como é bonito ver deitado, ao nosso lado, o seu lingerie jogado sobre a minha calça jeans..." Depois de muito esforço conseguiu ficar bem atrás de Aninha que vestia uma mini-saia justa e provocante. Seus longos cabelos louros agitados ao ritmo das violas, vez por outra acariciavam o rosto do rapaz envolvendo-o com seu perfume. Jamais tinham estado tão perto. Chegaram a ficar com os corpos colados. Foi quando aquele “negócio esquisito” bateu de novo. Com o coração aos pulos, enfiou a mão debaixo da saia da loirinha que parecia não dar bola. Juca prosseguiu lentamente a apalpar as coxas da garota, agora excitado com a certeza que ela curtia. Até que parou de repente, como que atingido por um raio gelado nas entranhas. Naquele aperto e com certa facilidade a garota girou seu corpo ficando cara a cara com Juca absolutamente estático. Aninha encarou profundamente a alma do espantado rapaz como que sabendo estar ali quem levou a calcinha da sua mãe. Com gestos sensuais, numa dança provocante, Aninha se esfregou por alguns instantes no corpo petrificado de Juca. Em seguida, com uma gargalhada ruidosa e debochada puxou a amiga pelo braço e antes de se perder na multidão deixou um último olhar de desafio na direção do ainda aparvalhado e assustado rapaz, que acabava de constatar que Aninha...não usava calcinhas.
*
Solano Ribeiro
2009

domingo, 28 de junho de 2009

Off do Off Flip

Noite de estréia

No final de tarde muito fria, diante da bilheteria do teatro, longa fila confirmava a expectativa pela primeira montagem da nova companhia de comédia promovida por eficiente campanha publicitária. Para a noite de estréia os ingressos não seriam vendidos, mas trocados. Um quilo de alimento não perecível. Para cumprir o preço ajustado todos na fila traziam algum pacote, caixa ou lata. – Vai ser um arraso – pensava o gerente, já prevendo meses de casa lotada. O diretor, aos berros, corria irado pelos bastidores clamando pelos sapatos dos atores que ainda não haviam chegado. - Mas eles prometeram... Gritava. – Desde que pagos... Completou o produtor em tom baixo para não ser ouvido pelos atores descalços, que sentados no imenso palco vazio, iluminados pela fraca luz de serviço, recusavam fazer o último ensaio. O autor, na penumbra da platéia, roia unhas ressecadas temendo os críticos impiedosos que só esperavam o fechar do pano para desabar venenosas palavras sobre suas palavras cuja seqüência havia procurado tornar coerente, lúcida e fluente em frases elaboradas com todo o cuidado. Tinha esperança de obter alguma emoção, riso ou lágrima, desde que qualquer emoção fosse. No palco, o diretor atônito diante do elenco sem sapatos, na expectativa de alguma resposta perguntava aos berros para a escuridão da platéia vazia: - Os adereços...Onde estão? Cadê os figurinos? E o cenário? Como pretender aplausos se nada temos alem de atores sem sapatos? Num canto isolado da boca de cena, equilibrado no topo de longa escada prateada, obedecendo a instruções de gorda e convicta iluminadora que da cabine envidraçada gesticulava gritos inaudíveis, o eletricista posicionava com focos aleatórios refletores apagados. Esperava que coincidissem com as marcações ensaiadas. - Na hora sai, pensava, lembrando de antigas montagens improvisadas. A fila crescia e se agitava. As portas já deveriam ter sido abertas. O vento frio e cortante prenunciava chuva impiedosa que logo iria castigar os já irritados espectadores. As notícias dos bastidores não conseguiam tirar o otimismo do gerente embevecido pela fila que não parava de crescer. Já tinha planos para o dinheiro que não via a hora de contar. Não naquela noite, ele sabia. Mas, o conteúdo das latas, caixas e pacotes, já deveria valer alguma coisa. No mínimo para alimentar os atores. Num diálogo mudo, para não provocar a ira do elenco que recusava fazer parte da encenação sem sapatos, o ator principal repassava, com bela e pálida coadjuvante, longo texto a ser contracenado. Tímido, procurando não ser notado, o dramaturgo acompanhava o conflito que surgia naqueles murmúrios decorados. Cheio de tiques nervosos, com tufos dos cabelos negros da figurante, o maquiador colava bigode mal ajambrado no líder semicareca dos comparsas cooptados, enquanto o chefe dos sem sapatos agitava maltrapilha bandeira encarnada. A chuva bateu forte, desvairada. Desfeita a fila pela tormenta a platéia em delírio molhado aplaudia portas fechadas. Convocado sob ameaças e já rendido às evidências o diretor estava prestes a reconhecer seu fracasso. Obedecendo a estalo dos dedos do gerente, até então preparados para contar dinheiro, o porteiro magricela providenciou a abertura das portas. Em segundos, verdadeira avalanche humana ocupou todos os lugares. Logo, palmas ritmadas exigiam o primeiro ato do sucesso anunciado. O diretor aturdido questionou ao gerente a abertura do teatro. - Você ficou louco! E agora? - E agora, respondeu, vá explicar a eles o que vai acontecer. Decidido a enfrentar mais aquele desafio surgiu frente à cortina sem saber a desculpa que iria dar. Um canhão de luz o iluminou frente à platéia que, imaginando iniciada a função, irrompeu em aplausos delirantes. Surpreso, decidiu contar a verdade. Pediu que fossem abertas as cortinas e acesas as luzes para que todos vissem o cenário inacabado. Chamados um a um à cena aberta, atores e figurantes sem sapatos contavam com humildade suas histórias íntimas, tristezas e as frustrações pelas falhas agora reveladas. Falou o maquiador, o cenógrafo, o figurinista e também o maquinista. O contra-regra, a iluminadora e depois o eletricista fizeram depoimentos entremeados com fatos de suas intimidades, paixões e ansiedades. Por vezes tristes, outras, engraçadas. A platéia fascinada com tamanha originalidade seguia em silêncio o desfilar de histórias simples, mas comoventes de gente tão sincera. O tempo foi passando e quando todos já tinham feito seu relato, o autor, saindo do lugar onde se escondia, temeroso pela reação da platéia, descalçou os sapatos e subiu ao palco. Com calhamaço de papel na mão que significava o texto a ser encenado foi o último a fazer uso da palavra. Mostrou ao respeitável publico a pilha de papeis dos quais a muito não se separava. Quase num soluço conseguiu murmurar: - Aqui está a minha obra. Anos de trabalho, anos de vida, e para que? Para que vocês, longe de suas vidas, possam viver um pouco de vidas criadas por minha imaginação e pelas palavras tornadas vivas. Cuja paga maior são apenas alguns segundos do seu aplauso. Para que tenha valido a pena, para que eu sinta algum sentido na minha vida. E tudo deixa de ser possível por pequenos detalhes. Hoje, a falta de alguns pares de sapatos...E abaixou a cabeça. A platéia de pé rompeu em aplausos. Um a um, atores e pessoal dos bastidores foram deixando o palco diante daquela gente emocionada, que sem controlar as lágrimas, não parava de bater palmas. Foi quando ecoaram delirantes gritos que tornavam aquele momento memorável para qualquer profissional de teatro: - Bravo! Bravo! Bravo! E o autor saiu lentamente do palco enquanto a cortina era fechada. O elenco teve que voltar várias vezes para agradecer aos aplausos. A noite de estréia está em cartaz há onze meses, sempre com casa lotada.

Solano Ribeiro
2009


sexta-feira, 26 de junho de 2009

A Mancha na parede - (Para Vlado)

Ruídos eletrônicos,
gemidos e gritos
fazem da espera
a única companheira.

Uma vida é tirada
sem perdão ou castigo.

Exibem a foto
para mostrar o fato
sem revelar o ato
que resultou na foto.

A mancha da parede
com o passar dos dias
deixa de ser percebida.
Logo outra aparecerá
e será notada por algum tempo,
até se perder no cotidiano.

Se não mudar a história.



Solano Ribeiro

quarta-feira, 24 de junho de 2009

É tempo de Wimbledon

Tênis - Para principiantes

Tênis, jogo que por causa do Guga ficou na moda, é uma espécie de ping-pong tamanho família. Só não é jogado em cima de uma mesa e quem o pratica usa sapatos que levam o nome do jogo. Mas o princípio é o mesmo, bater com uma raquete bem maior e cheia de cordas de nylon numa bolinha fazendo-a passar por sobre uma rede para cair nos limites indicados por algumas poucas linhas do outro lado, sempre procurando fazer com que o adversário, que em geral fica em linhas iguais e diretamente opostas, não consiga fazer com a bolinha nas suas linhas o que você tenta fazer com ela nas entre linhas do lado dele.
O tênis é o tipo de jogo inglês por excelência. O jogador nunca tem contato direto com o adversário, apesar da certeza de que ele esta lá, do outro lado. (os adversários dos ingleses estão sempre lá, do outro lado). Os tenistas jogam contra a rede, as linhas, os juizes, e a bolinha que sempre vem arremessada pela raquete do tenista que está do lado oposto. Existe o juiz de cadeira, que fica sentado um pouco acima dos jogadores e os juizes de linhas, um bando de atentos semi-agachados, cuja missão é dar um grito lancinante quando a bolinha cai fora do que costumam chamar de quadra e que às vezes levam tímidas vaias de sempre educados espectadores. Tênis é sinônimo de cavalheirismo.
Um bando de garotos bem comportados, movidos a promessas de que, se não cometerem nenhuma gafe durante o jogo, no futuro poderão ser promovidos a juizes de linha para gritar à vontade quando a bola sair dos limites, ou mesmo se tornarem jogadores com chance de serem campeões, ficam a postos para apanhá-la e em seguida devolvê-la aos tenistas, homens ou mulheres de fino trato, que não podem passar pelo desconforto de sair catando bolinhas como quem sai atrás de pintinhos amarelos desgarrados.
Ninguém jamais viu dois tenistas brigando. Na verdade isso seria uma deselegância impensável. Ele pode gritar a esmo, xingar a si mesmo, reclamar de eventuais decisões dos juizes de cadeira ou de linha, quebrar a raquete ou até criticar o comportamento do público, mas jamais na história do tênis, algum jogador saiu às vias de fato com o seu adversário. A não ser através de sua assessoria. Questão de educação. A filosofia do jogo parece ser - “nem tudo está perdido” - ou seja, sempre será possível corrigir eventuais gafes. Também coisa de inglês.
Os tenistas ficam o jogo todo tentando fazer com que a bolinha passe para o outro lado da rede, (que deve ser caríssima, pois a maioria traz a marca Mercedes Benz), sem deixar que saiam do limite imposto pelas linhas que formam a quadra, que por questão de economia também são utilizadas para jogos de duplas, o que faz com que existam linhas que valem e outras que não, como as leis brasileiras. Mas os ingleses jamais as confundem.
A contagem, para os não iniciados, é um dos segredos mais bem guardados pelo império britânico. Outro é a graça que acham no jogo de Cricket. No tênis, o primeiro ponto vale quinze, o segundo também quinze, o terceiro dez, e o quarto ninguém jamais saberá. Mas esse quarto e último ponto é o que pode decidir o que eles chamam de game, que não é o jogo todo como pode parecer numa tradução literal, mas apenas uma fração de um set e o jogador que ganhar seis games será considerado o vencedor do set que tem seis games. “God shave the Queen”. As vezes no game acontece um empate nos quarenta pontos. Nesses casos, não basta chegar aquele número misterioso, pois será sempre necessária uma diferença de dois pontos que não tem nome específico. Quem conseguir um ponto a mais passa a ter uma “vantagem”. Se quem estiver sacando ganhar o ponto seguinte fazendo a diferença de dois pontos, terá feito um “game point” e será considerado o vencedor do tal game.
Mas se o outro ganhar depois de ter passado pela vantagem, terá conseguido um “break point” ou, quem sacou não levou. Teve o seu serviço quebrado.
Vai sair vencedor quem fechar o maior número de sets e ganhará cada set quem fizer com que o adversário perca mais games. Mas definitivamente o mais importante é quebrar o saque do oponente, ou seja, ganhar o game quando quem saca é o outro, pois é aí que está a graça do jogo. Sacou?
O jogador que saca tem uma certa vantagem, pois no primeiro saque, também chamado de serviço, ele pode arriscar uma tremenda raquetada e não vai ter nenhum prejuízo se errar. Ele tem a chance de um segundo serviço, só que desta vez tem que acertar sob pena de cometer uma dupla falta, facilmente identificada pelo berro do juiz de linha - FAULT - que quando acontece em dois saques seguidos significa a perda de precioso ponto no game. Se o cara que saca perde mais pontos, ou seja, se quem está na frente é o jogador que não está sacando, a contagem é feita ao contrário; zero - quinze, zero - trinta, quinze - trinta e assim por diante, até que consiga chegar àquele número que jamais alguém saberá e então terá quebrado o serviço do outro. Para o cara que quebrou o serviço ganhar o set, basta não perder mais nenhum game quando estiver sacando que estará feita a diferença de dois pontos, sempre necessária.
Se não acontecer quebra de serviço o jogo vai de game em game, até que um dos tenistas ganhe seis deles. Mas o outro também pode ganhar seis games fazendo seis a seis no set, e aí teremos o “Tie Break”, para os ingleses a quebra do empate. No tie break, ganha quem chegar primeiro ao sétimo ponto, o que geralmente é fácil da gente ficar sabendo, pois é chamado de set point. Bom, isso se o adversário não chegar um ponto atrás, pois para ganhar no tie break também é preciso a tal diferença de dois pontos, o que às vezes faz com que a quebra de empate, ou desempate, termine com vinte sete para o que ganhou e vinte cinco para o que perdeu.
Parece confuso? Parece e é. Mas não na Inglaterra, país em cuja moeda até pouco tempo a soma de doze mais doze dava vinte, onde a mão de direção no trânsito é ao contrário, assim como o próprio volante, que lá é na direita. Se na Inglaterra você dirigir seu carro na mão que seria correta para um brasileiro leva uma multa desse tamanho, e em inglês. Isso se antes não tiver dado uma puta porrada.
O jogo de tênis tem três ou cinco sets, dependendo da importância do torneio. Alguns têm três sets na fase eliminatória e cinco na partida final, no geral um jogo que vale uma grana preta, mesmo pra quem perde. Nos jogos que tem três sets será vencedor quem ganhar dois deles e nos jogos com cinco, ganha quem fechar com vantagem três dos sets. Fácil não?
As partidas entre mulheres são em três sets para que não cansem demais. Mas já existe uma ONG defendendo o direito da mulher também jogar cinco sets, desde que parem de gritar ou gemer ao dar suas raquetadas. As “vantagens” já citadas acontecem quando no game, set ou "Match point", um dos jogadores fica a um ponto de ganhar o tal game, set, ou match. Nos jogos com cinco sets, a vantagem é de quebra para quem assiste, pois poderá ir almoçar se quiser, tirar uma soneca ou até pegar um cinema porque quando voltar o jogo ainda vai estar rolando animado até que um dos jogadores consiga fazer o chamado “Match point”, o ponto do jogo. Nem sempre o ponto do jogo é o último a ser disputado, pois se quem estiver para fechar a partida perder o ponto do jogo vai ter que conseguir outro o que pode significar uma tremenda mão de obra até chegar de novo lá. Isso se o Match Point não for conseguido pelo adversário, o que acontece com freqüência. Ficou convencionado pelos ingleses, e o mundo inteiro aceitou, que ganhará o jogo quem ganhar o tal de “Match point”.
De vez em quando no meio de uma partida os tenistas fazem uma pausa e sentados um de cada lado do juiz, que sempre estará lá em cima, aproveitam para pensar na vida e no pão que estão ganhando. Mas nessa hora, todos sem exceção, costumam enxugar o suor do rosto. Os jogadores aproveitam também para tomar um gole de água mineral ou de energético com a marca de um dos vários patrocinadores do torneio. É aí que a televisão tem a oportunidade de faturar, colocando no ar os seus comerciais. Quase sempre quando termina o intervalo o jogo já recomeçou. Mas ainda assim não vai ser problema você saber o que está acontecendo, porque não terá acontecido nada muito diferente. Bom, às vezes você vai perceber que os jogadores trocaram de lado.

© Solano Ribeiro

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Vender Palavras

Estou a vender palavras.
Podem ser caras ou baratas.

Para o bom entendedor
hão de custar a metade.

Já palavras ao vento,
ficarão ao seu sabor.

Para o ricaço empolado,
vão custar dobrado,
pois certamente servirão,
pra render mais um bocado.

A de honra...
não tem preço!

Para a garota que passa,
apenas palavras de graça.
E pra’quele mulherão,
só os olhos falarão.

Para o velhote, coitado,
custarão nada,
pra não comprometer
sua renda aposentada.

Aos poderosos, maiores preços,
pois com palavras caras
surgirão novos endereços.

Ao quase poeta,
aquele boêmio solitário,
o reino da terra, do céu,
da verdade,
que saiba do dicionário,
tirar toda a felicidade

Bêbados que me perdoem,
e também criancinhas chatas,
mas não quero em boca mole,
palavras que não se escolhe.

Aos colegas poetas um pedido,
me emprestem sua matéria prima,
afinal, como eles,
só sei viver da rima.


Solano Ribeiro / 2009

sábado, 30 de maio de 2009

O papel do artista...

O papel do artista é convencer os outros da veracidade de suas mentiras.

Paul Klee

domingo, 24 de maio de 2009

Cozette

Estrela do Palladium,
era a gostosa da foto.
Qualquer coisa,
uma coisinha
uma Cozette qualquer...
A luz do primeiro ato.

Na linha de frente das pernas,
sublimes coxas, vibrantes,
balançavam o coração de tantos...
e quantos...
da primeira a última fila
pagavam o show barato.

Nada mais acontecia
quando Cozette dançava.
A Cozette que sorria
Cozette, a que brilhava.
E a galera ululava
enquanto Cozette dançava...

No bastidor zoneado,
sozinho, apaixonado,
o garçom curtia o prêmio
que toda noite esperava:
Numa fresta do camarim
a visão do entreato,
com cheiro de pó de arroz
e a bundinha empinada
Cozette ensaiava no espelho
o sorriso retocado.

...e voltava ainda suada
buscando a luz que rasgava
a nuvem de fumo num facho.
E enquanto o maestro enfezado
regia cadeiras arrastadas,
o bêbado gritava:
- Dança Cozette gostosa
você vale uma briga em casa.

Entravam todas juntas
todas iguais, enganadas,
pois ninguém mais aparecia
quando Cozette dançava.
Só Cozette, a que sorria
Cozette que a todos amava.

E a galera ululava,
enquanto Cozette dançava...

sábado, 16 de maio de 2009

2 + 2 = 5


E os artistas? Ah! estes, num futuro remoto comandarão tudo. Serão (o que já são) os mandarins, com toda a plenitude e força que a técnica colocará em suas mãos. No fim, só os artistas mandarão. É que a Humanidade andará sedenta de fantasias, sonhos, mitos, mirágens, (que não são mentiras, nem alucinações, mas a representação poética da vida do homem), de um novo sentido religioso. E aí os artistas serão os novos sacerdotes. Apertando os botões das grandes máquinas, o mundo inteiro viverá na grande tragédia que todos escreverão. Porque todos serão artistas.
Jorge Mautner

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Frases...

'Fumo maconha, mas não trago, quem traz é um amigo meu' - Marcelo Anthony.
'O que te engorda não é o que você come entre o Natal e o Ano Novo, mas o que você come entre o Ano Novo e o Natal' - Solange Couto.

'Se o horário oficial é o de Brasília, por que a gente tem que trabalhar na segunda e na sexta?'- Dorival Caymmi.
'Para seu marido não acordar com a macaca... Depile-se' - Cláudia Ohana. 'Por maior que seja o buraco em que você se encontra, pense que, por enquanto, ainda não há terra em cima' - Dercy Gonçalves.

'Cabelo ruim é igual a bandido... Ou tá preso ou tá armado' - Gaúcho Ronaldinho.
'Preguiçoso é o dono da sauna, que vive do suor dos outros' - Roberto Justus.
'Não me considere o chefe, considere-me apenas um colega de trabalho que sempre tem razão' - Galvão Bueno.
'Malandro é o pato, que já nasce com os dedos colados para não usar aliança' - Zeca Pagodinho.
'Mulher gorda é que nem Ferrari... Quando sobe na balança vai de zero a cem em um segundo' - Reginaldo Leme.
'Se um dia a vida lhe der as costas... Passe a mão na bunda dela' - Paulo CesarPereio.
'Os psiquiatras dizem que uma em cada quatro pessoas tem alguma deficiência mental... Fique de olho em três dos seus amigos. Se eles parecerem normais, retardado é você' -Antônio Palocci.
'Se homossexualismo fosse normal... Deus teria criado Adão e Evo' - Gilberto Braga.
'Todo mundo tem cliente. Só traficante e analista de sistemas é que tem usuário' - Bill Gates.
'Mulher de amigo meu é igual a muro alto... ..sei que é perigoso, mas eu trepo' - Chico Buarque.
'Casamento começa em motel e termina em pensão' - Romário.
'Seja legal com seus filhos. São eles que vão escolher seu asilo' - Itamar Franco.
'Antigamente, o homossexualismo era proibido no Brasil. Depois, passou a ser tolerado. Hoje é aceito como coisa normal... Eu vou-me embora antes que se torne obrigatório' - Arnaldo Jabor.
'Passar a mulher pra trás é fácil. O difícil é passar adiante' - Eduardo Suplicy.
'O Brasil está igual a carro velho: para subir não tem força, para descer não tem freio' - Dilma Roussef.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Coisas do Brasil

Este é um país com duas moedas onde o dinheiro do respeitável público vale ao redor de zero,porra nenhuma% ao mês e o dos banqueiros à partir de um dígito gordo. Quem deve ao governo entra na dívida ativa e se credor fica na passiva. Um país onde se correr o banco pega, se ficar o juro come.
Solano Ribeiro

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Écos do Silêncio...

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem;

pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz,
e,conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

domingo, 15 de março de 2009

Cade o Leão?

Dizem que é preciso matar um leão por dia.

Alguém sabe por onde andam os leões?

domingo, 1 de março de 2009

Darwin e uma das espécies...

"Os brasileiros, até onde vai minha capacidade de julgamento, possuem apenas uma pequena quantia daquela qualidades que dão dignidade à humanidade. Ignorantes, covardes e indolentes ao extremo; hospitaleiros e bem-humorados, enquanto isso não lhes causar problemas (...)".

Charles Darwin - (1832)
*
O dia perdeu-se com a obtenção de passaportes para minha expedição rumo ao interior. Nunca é agradável submeter-se à insolência de homens de escritório, mas aos brasileiros que são tão desprezíveis mentalmente, quanto são miseráveis suas pessoas, é quase intolerável. Contudo, a perspectiva de florestas selvagens zeladas por lindas aves, macacos e preguiças, lagos, roedores e aligatores fará um naturalista lamber o pó até da sola dos pés de um brasileiro".

C.D. (6 de abril de 1832)
*
Nada mais admirável do que o efeito dessas colossais massas redondas de rocha nua emergindo do seio da mais luxuriante vegetação. Muitas vezes eu me entretinha olhando as nuvens que, rolando sobre o mar, vinham formar um manto logo abaixo do ponto mais elevado do Corcovado.

C.D. - Rio de Janeiro (9 de abril a 5 de junho 1832)
*
A cidade, por toda parte, é nojenta; as ruas são estreitas, mal pavimentadas, imundas; as casas, muito altas e sombrias. Nada havia na paisagem, no aroma ou nos sons dessa grande cidade que me fornecesse quaisquer impressões agradáveis.

C.D. - Recife (12 de agosto de 1936)

(do Estadão-01. 03.09)






sábado, 21 de fevereiro de 2009

Um peso e duas moedas

O Brasil é um país original. Tem duas moedas. A do respeitável público, que vale algo como zero vírgula qualquer coisa por cento ao mês e a dos banqueiros, que custa pelo menos dez vezes mais. Quando você deve ao governo entra numa coisa chamada "dívida ativa". Quando é o governo quem deve, a dívida nunca deixará de ser passiva. Por aqui, se correr o banco pega, se ficar o juro come.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Haikais

Haikai ou Haiku é uma forma poética de origem japonesa que valoriza a concisão a objetividade. O principal haicaista foi Matsuô Batshô que viveu de 1644 a 1694 e se dedicou a fazer desse tipo de poesia uma prática espiritual.

De Idelma Ribeiro de Faria:

Para o albatroz
a Terra é apenas um pouso.
Sua morada é o céu.

*
Fez flores e frutos
e o mar e as núvens e as fontes
e criou Caim.

*
De Clarice Lispector:


Laranja na mesa.

Bendita a árvore
Que te pariu.

*
De Millôr Fernandes:


Na poça da rua.
O vira-lata
Lambe a lua.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A mancha na parede

Na semilua
entre ruídos eletrônicos
e gemidos de dor
a espera é a única
companheira

Na rua temida
cravam punhais
trocam tiros
na caça de parca
ou improvável
recompensa

Uma vida é tirada
sem a contra partida
de perdão ou castigo

Centenas de corpos

nus
efileirados

admitem sua culpa
e revidam pelo respeito

Bandeiras hasteadas a esmo
representam sentidos
representam motivos
Nada além de revolta
sem facções ou ideologia

A mancha na parede
com o passar dos dias
deixará de ser percebida
Logo outra aparecerá
e será notada por algum tempo,
até se perder no cotidiano.

Solano Ribeiro

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Donde?

Por José Saramago
Donde saiu este homem? Não peço que me digam onde nasceu, quem foram os seus pais, que estudos fez, que projecto de vida desenhou para si e para a sua família. Tudo isso mais ou menos o sabemos, tenho aí a sua autobiografia, livro sério e sincero, além de inteligentemente escrito. Quando pergunto donde saiu Barack Obama estou a manifestar a minha perplexidade por este tempo que vivemos, cínico, desesperançado, sombrio, terrível em mil dos seus aspectos, ter gerado uma pessoa (é um homem, podia ser uma mulher) que levanta a voz para falar de valores, de responsabilidade pessoal e colectiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida. Estes conceitos que alguma vez foram o cimento da melhor convivência humana sofreram por muito tempo o desprezo dos poderosos, esses mesmos que, a partir de hoje (tenham-no por certo), vão vestir à pressa o novo figurino e clamar em todos os tons: “Eu também, eu também.” Barack Obama, no seu discurso, deu-nos razões (as razões) para que não nos deixemos enganar. O mundo pode ser melhor do que isto a que parecemos ter sido condenados. No fundo, o que Obama nos veio dizer é que outro mundo é possível. Muitos de nós já o vinhamos dizendo há muito. Talvez a ocasião seja boa para que tentemos pôr-nos de acordo sobre o modo e a maneira. Para começar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Spread

O Brasil tem duas moedas. Uma a nossa, que vale algo perto de zero vírgula qualquer coisa por cento ao mês. A outra, é a dos bancos, que dependendo das circunstâncias, custa até quinze vezes mais, ou mais. A desculpa alegada pela diferença, ou o “spread” é o risco da inadimplência. Mas, os lucros que acusam é um escárnio para quem aqui em baixo, ralando, tenta produzir. Aqui, banco não banca, agiota. E ainda ficam discorrendo a propósito da péssima distribuição de renda vigente no país. Como se a culpa não fosse deles, que além cacifados pelos juros escorchantes e tarifas imorais tomaram as devidas providências para proteger seu rico dinheirinho criando o mais invasivo, agressivo e desrespeitoso sistema de cobrança que se tem notícia no mundo. Invadem a privacidade do cidadão, pelo telefone, qualquer dia e hora. Além de distribuir a intimidade do devedor aos colegas por meio dos serviços de proteção ao crédito, transformando qualquer transação mercantil numa atividade tão arriscada como gastar além do limite do cheque especial, ou comprar a prazo com o cartão de crédito. Enquanto a violência e impostos aumentam, aqueles caras de Brasília fazem de conta que não é com eles. O que serve de desculpa para que continuem a não fazer nada. A não ser cuidar muito bem da própria distribuição da renda. A do cidadão, cuja única via é através de salários mais dignos e empregos criados com o dinheiro dos bancos, se canalizado para a produção, deixa para lá. O problema social passa a ser o bode expiatório. Não é com eles. Culpa da história. Como se não estivessem ganhando para escrevê-la. Se você deve para o governo passa a ter seu nome na divida ativa. Quando o governo é devedor a divida silenciosamente passa a ser inativa. Pagar precatórios, nem pensar. Os Estados Unidos, assolados pela crise e para estimular o consumo, na tentativa de que o país keep walking, baixaram os juros para 0,25 ao ano. Vale repetir, ao ano. Enquanto aqui, os viadutos continuam a ser a única opção imobiliária para a turma do social. Mas, nem tudo esta perdido. Sem levar em conta que viadutos podem cair, a cachaça foi tombada. Agora é patrimônio nacional. Mesmo com as águas a rolar, a cachaça é nossa! Fico pensando na preocupação que isso deve causar aos escoceses. Feliz 2009...Cruzes!
Solano Ribeiro