Eugenia Melo e Castro

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Penso, logo hesito...

Se tivesse certeza,
não teria a menor dúvida!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Lei Seca!

Felipe e Marina formavam um casal feliz. Jovens, belos, cheios de alegria, com vida emocional e financeira tranqüila. Sem filhos, viviam para viver. Eram sempre os primeiros em qualquer lista de convidados de convites jamais recusados. Primeiros a chegar e últimos a sair. Para os amigos, festa sem os dois, embora fosse raro, parecia ter alguma coisa fora do lugar. Além do ciúme, pois deveriam estar se divertindo e a divertir outros privilegiados. Às vezes, depois de algum compromisso impossível de recusar, apareciam no final de reunião da turma e tudo mudava. Chegavam já "calibrados" e, sempre engraçados, traziam histórias hilárias das pessoas com quem tinham acabado de estar, o que incrementava os papos e dava novo colorido à reunião, festa ou mesmo uma saideira no "Oposto", barzinho no Posto de gasolina da Granja Vianna, onde quase toda noite sempre havia alguém a jogar conversa fora. O casal, apesar de bastante etilizado, nos fins de noite chegava de automóvel, cuja direção revezavam dependendo de quem estivesse em melhor estado. Jamais um acidente ou mesmo incidente em anos de estrada. Até a chegada da Lei Seca. Prolongadas discussões sobre o absurdo das novas medidas. "Autoritarismo!". "Inconstitucional!". "Invasão de privacidade!!!". "Qualidade de vida prejudicada!!!". "E os direitos humanos???". Certa noite, Primo, um dos da turma foi preso. Imbuído da certeza de que estaria acima de qualquer punição soprou o bafômetro com o mesmo ímpeto com que gritou pelo gol do Palmeiras. Naquela noite, um a zero no Corinthians. Delegacia. Instituto Médico Legal. Fiança. Liberdade. Direto para um último gole no Oposto. Assunto para muitas noites. Aos poucos e com o proliferar de notícias de que amigos de vários amigos haviam "caído", o consumo também foi caindo. Com isso o faturamento. Luiz o proprietário, estava desolado. Felipe e Marina foram os últimos a capitular. Mas, "dura lex sed lex!". Decisão: Revezar. Num dia, um bebe e não dirige. No outro, quem dirigir não bebe. Par ou impar. Amanhã, Felipe não bebe. "Então vamos comemorar". Foi o maior porre dentre todos que tinham lembrança. Mas sempre, como sempre, na cama o final feliz. Já na primeira festa a primeira briga. "Que festa chata!. Um saco! Você tinha que ficar dando bola pro Marcelo". "Que bola?". "Ficaram dançando o tempo todo de rosto colado". "Como sempre! Você não dançou porque não quis. A Valéria estava lá". "Não tava a fim". Naquela noite, na cama nada. Na festa seguinte, o contrário. "Nunca pensei que você fosse tão cara de pau. Passando o pé no pé da Janete por baixo da mesa, bem na frente do corno do Ricardo". "Na frente não, embaixo". "Cê ta bêbado". Na cama: "Com esse bafo não dá". A bebida não fazia parte dos hábitos de outro casal jovem e sem filhos: Carlos e Renata. Ele, por proibição médica e ela por solidariedade ao marido. Sempre em sintonia com o clima acelerado da turma, jamais destoavam. Mas suas relações não andavam bem. Incompatibilidade de horários. Renata, produtora de Rádio e TV numa agência de propaganda, passava noites em intermináveis filmagens. Felipe e Marina, estremecidos e já separados mantinham as mesmas agendas. Inevitável o casal Carlos x Marina. Como recíproca, Felipe passou a conhecer as delicias das noites publicitárias de Renata. Nem o hálito etílico de um ou as gracinhas do outro com as belas modelos pareciam ser notados. Com apartamentos já montados, fácil para ambas as partes. Foi só fazer mudança das roupas e objetos íntimos dos ex-maridos e algumas garrafas. E o bafômetro deixou de ter importância.