Eugenia Melo e Castro

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Os 60 da televisão e a MPB

Sinal dos tempos: Em recentes debates promovidos pelo jornal O Estado de São Paulo pela passagem dos 60 anos da televisão no Brasil foram escolhidos como temas: jornalismo, humor e novelas. A música popular não teve vez. Justamente aquela que com os grandes festivais na década de 60, além de revelar nova geração de compositores, cantores e músicos, mudou o panorama da música e da televisão. Suas apresentações atraiam mais interesse e audiência que o futebol. A final do Festival da TV Record de 1967 atingiu inacreditáveis 97% de Ibope. Fizeram parte da própria história de período importante na formação da atual conjuntura política do país. A música popular, principalmente a que veio ser chamada MPB, teve participação ativa, tanto nos momentos em que a ditadura militar fez presente sua força, com impiedosa perseguição ao pensamento libertário, quanto na luta contra sistemática e brutal censura imposta aos meios culturais e de comunicação. Foi através da música popular e por meio de seus artistas que toda uma geração encontrou tênue, porém, viva e marcante válvula de escape para dar vazão às suas insatisfações e anseios por liberdade.

O Festival de San Remo é realizado desde 1951, mesmo antes da chegada da televisão na Itália, o que aconteceu em 1955. No Chile o Festival Internacional da Canção de Viña del Mar, considerado o mais importante da América Latina é organizado em todo mês de fevereiro desde 1959. No Brasil o ciclo dos grandes festivais que eram transmitidos pela televisão terminou em 1972 com o VII FIC.

Os festivais foram interrompidos por razões políticas. Algumas tentativas esporádicas aconteceram, mas sem a continuidade que transforma um festival de música num processo dinâmico. As criações apresentadas no último servirão sempre como referência ao seguinte, numa constante transformação de estilos, ritmos e tendências de artistas que fazem do festival ponto de partida, cuja chegada trará sempre surpresas para quem o acompanha. A falta dos festivais e de uma música de qualidade no rádio e na televisão fez com que os espaços fossem ocupados pelo marketing da indústria da música que impôs modismos de qualidade duvidosa tendo como única finalidade fazer dinheiro. O que se viu foi total desprezo por coerência ou vínculo com valores culturais que tanto motivaram público e mídia em tempos recentes. Basta fazer um passeio pelo dial das FMs de qualquer localidade para se ter a impressão de estar em outro país. Hoje a música brasileira faz mais sucesso no exterior do que na sua origem.

Mas, chega de saudade. A fila tem que andar. Por outro lado e para quem sabe, nunca na história deste país existiu quantidade igual de músicos, cantores, compositores e grupos que, sem necessidade de grandes investimentos, estão preparados para ocupar os espaços que lhes pertencem por direito. Os meios mudaram, assim como a maneira de fazer música. A produção independente cresce. Com a informática e suas possibilidades infinitas, somadas ao Facebook, YouTube, MySpace, MP3, Ipod ou não pod, veio a liberdade de criação e plataformas de divulgação que modificaram a relação musica / público. Isso precisa ser revelado. E a maneira ainda mais eficiente seria pela televisão. Mas, não é hora de realizar um festival de música popular. Antes será necessário criar ambiente musical, o que não é difícil. A Nova Música do Brasil, se descoberta pela televisão, tem potencial para desencadear movimento musical que poderá ocupar espaço igual ao da Bossa Nova ou até mesmo dos Festivais com uma música que vai de encontro às raízes culturais de imensa platéia e mídia, ávidas a prestigiar com seu aplauso e espaço iniciativas coerentes com o momento por que passa o país e o planeta. Quem viver ouvirá!