Eugenia Melo e Castro

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Penso, logo hesito...

Se tivesse certeza,
não teria a menor dúvida!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Lei Seca!

Felipe e Marina formavam um casal feliz. Jovens, belos, cheios de alegria, com vida emocional e financeira tranqüila. Sem filhos, viviam para viver. Eram sempre os primeiros em qualquer lista de convidados de convites jamais recusados. Primeiros a chegar e últimos a sair. Para os amigos, festa sem os dois, embora fosse raro, parecia ter alguma coisa fora do lugar. Além do ciúme, pois deveriam estar se divertindo e a divertir outros privilegiados. Às vezes, depois de algum compromisso impossível de recusar, apareciam no final de reunião da turma e tudo mudava. Chegavam já "calibrados" e, sempre engraçados, traziam histórias hilárias das pessoas com quem tinham acabado de estar, o que incrementava os papos e dava novo colorido à reunião, festa ou mesmo uma saideira no "Oposto", barzinho no Posto de gasolina da Granja Vianna, onde quase toda noite sempre havia alguém a jogar conversa fora. O casal, apesar de bastante etilizado, nos fins de noite chegava de automóvel, cuja direção revezavam dependendo de quem estivesse em melhor estado. Jamais um acidente ou mesmo incidente em anos de estrada. Até a chegada da Lei Seca. Prolongadas discussões sobre o absurdo das novas medidas. "Autoritarismo!". "Inconstitucional!". "Invasão de privacidade!!!". "Qualidade de vida prejudicada!!!". "E os direitos humanos???". Certa noite, Primo, um dos da turma foi preso. Imbuído da certeza de que estaria acima de qualquer punição soprou o bafômetro com o mesmo ímpeto com que gritou pelo gol do Palmeiras. Naquela noite, um a zero no Corinthians. Delegacia. Instituto Médico Legal. Fiança. Liberdade. Direto para um último gole no Oposto. Assunto para muitas noites. Aos poucos e com o proliferar de notícias de que amigos de vários amigos haviam "caído", o consumo também foi caindo. Com isso o faturamento. Luiz o proprietário, estava desolado. Felipe e Marina foram os últimos a capitular. Mas, "dura lex sed lex!". Decisão: Revezar. Num dia, um bebe e não dirige. No outro, quem dirigir não bebe. Par ou impar. Amanhã, Felipe não bebe. "Então vamos comemorar". Foi o maior porre dentre todos que tinham lembrança. Mas sempre, como sempre, na cama o final feliz. Já na primeira festa a primeira briga. "Que festa chata!. Um saco! Você tinha que ficar dando bola pro Marcelo". "Que bola?". "Ficaram dançando o tempo todo de rosto colado". "Como sempre! Você não dançou porque não quis. A Valéria estava lá". "Não tava a fim". Naquela noite, na cama nada. Na festa seguinte, o contrário. "Nunca pensei que você fosse tão cara de pau. Passando o pé no pé da Janete por baixo da mesa, bem na frente do corno do Ricardo". "Na frente não, embaixo". "Cê ta bêbado". Na cama: "Com esse bafo não dá". A bebida não fazia parte dos hábitos de outro casal jovem e sem filhos: Carlos e Renata. Ele, por proibição médica e ela por solidariedade ao marido. Sempre em sintonia com o clima acelerado da turma, jamais destoavam. Mas suas relações não andavam bem. Incompatibilidade de horários. Renata, produtora de Rádio e TV numa agência de propaganda, passava noites em intermináveis filmagens. Felipe e Marina, estremecidos e já separados mantinham as mesmas agendas. Inevitável o casal Carlos x Marina. Como recíproca, Felipe passou a conhecer as delicias das noites publicitárias de Renata. Nem o hálito etílico de um ou as gracinhas do outro com as belas modelos pareciam ser notados. Com apartamentos já montados, fácil para ambas as partes. Foi só fazer mudança das roupas e objetos íntimos dos ex-maridos e algumas garrafas. E o bafômetro deixou de ter importância.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Paixão Virtual

Em silêncio, vestiram lentamente as roupas espalhadas pelo chão da suíte do motel onde estiveram juntos pela primeira vez. Na tentativa de atenuar o clima pesado que substituiu o ardor que os envolveu assim que ficaram sos, Cláudia murmurou:
- A primeira vez é assim mesmo... Frustração. Calados durante todo o trajeto. Luiz Carlos a deixou no estacionamento do Shopping onde estava seu carro e seguiu sem entender como foi possível que nada de sua expectativa tivesse acontecido. O primeiro contato havia sido pela internet, num chat de bate papo. Logo apareceram pontos onde coincidiam preferências superficiais e optaram por estabelecer ligação virtual direta. Na troca de fotos a surpresa; eram belos, atraentes e cheios de vida. No começo, tiradas filosóficas, lindas imagens, poemas, músicas e frases recolhidas ou recebidas pela Internet. Com a liberdade crescendo, palavrões e piadas mais apimentadas. Logo cenas eróticas passaram a fazer parte dos e-mails. Entraram nas intimidades e em pouco tempo cada um conhecia os mínimos detalhes da vida do outro. Cada vez que respondia a um e-mail a excitação de Luiz Carlos era tal que a ereção passou a ser rotineira. Chegou ao orgasmo quando ao entrar nas sutilezas sobre as relações com seus pares, Claudia relatou a sua parte com riqueza de detalhes. Às vezes ficava tão perturbada que a única solução era masturbação. A relação se tornou a tal ponto intensa e obsessiva que um encontro era inevitável. Cláudia parou seu carro no estacionamento do Shopping indicado por Luiz Carlos que lá estava a espera. Sem qualquer palavra, depois de algum tempo olhos nos olhos, um beijo prolongado e cheio de desejos marcou o primeiro momento. Direto para o motel. O que teria acontecido? Como tanta promessa de fortes emoções havia esfriado a tal ponto de em poucos minutos estarem em silêncio sem ter o que fazer ou falar? Semanas sem mensagens, até que numa tarde Luiz Carlos recebeu e-mail com foto do celular de Claudia com careta num balão que dizia: "Olá!", Voltaram antigos apelos que foram se tornando cada vez mais obscenos, cheios de detalhes jamais imaginados por qualquer dos dois. Chegaram a enviar fotos de celulares com imagens de suas práticas solitárias. Decidiram tentar mais uma vez. Luiz Carlos sugeriu que cada um levasse seu lap-top. Encontro no mesmo Shopping. Ao longo do caminho até o motel, poucas palavras. Depois de ligados os aparelhos, um de cada lado da imensa cama da suíte trocaram mensagens por mais de uma hora. Subitamente arrancaram as roupas e com o mesmo ímpeto do primeiro encontro se entregaram com violência, num furor selvagem, sem limites, despudorado, que jamais julgaram possuir. Hoje moram juntos. Cada um em seu quarto. Todos os dias passam horas frente aos computadores. Uma vez por semana, dormem na mesma cama.

Solano Ribeiro
2008






terça-feira, 11 de novembro de 2008

Cozette

Estrela do Palladium,
era a gostosa da foto.
Qualquer coisa,
uma coisinha
uma Cozette qualquer...
A luz do primeiro ato.

Na linha de frente das pernas,
sublimes coxas, vibrantes,
balançavam o coração de tantos...
e quantos...
da primeira a última fila
pagavam o show barato.

Nada mais acontecia
quando Cozette dançava.
A Cozette que sorria
Cozette, a que brilhava.
E a galera ululava
enquanto Cozette dançava...

No bastidor zoneado,
sozinho, apaixonado,
o garçom curtia o prêmio
que toda noite esperava:
Numa fresta do camarim
a visão do entreato,
com cheiro de pó de arroz
e a bundinha empinada
Cozette ensaiava no espelho
o sorriso retocado.

...e voltava ainda suada
buscando a luz que rasgava
a nuvem de fumo num facho.
E enquanto o maestro enfezado
regia cadeiras arrastadas,
o bêbado gritava:
- Dança Cozette gostosa
você vale uma briga em casa.

Entravam todas juntas
todas iguais, enganadas,
pois ninguém mais aparecia
quando Cozette dançava.
Só Cozette, a que sorria
Cozette que a todos amava.

E a galera ululava,
enquanto Cozette dançava...

sábado, 8 de novembro de 2008

O Colecionador de Calcinhas

O Colecionador de calcinhas

Perturbado pelo cheiro forte da tinta, Juca deixou para o dia seguinte o para-lamas que faltava para terminar a pintura do velho carro vermelho. Como fazia todo fim de tarde se pendurou num salto na porta da oficina que desceu com seu peso. Depois de trancá-la seguiu para casa. Meia hora de caminhada pelas ruas empoeiradas da pequena cidade. Às vezes achava mais divertido seguir pelos terrenos baldios, ao redor das mansões, onde vez por outra parava para observar furtivamente o que acontecia na intimidade da gente de dinheiro da cidade. Se um cão mais atento ameaçava denunciar sua presença, num gesto rápido, fingia apanhar uma pedra no chão e a atirar na direção do animal, que quase sempre, saia ganindo em disparada. A tinta ainda fazia seu efeito, mas agora, a sensação era agradável. Lembrava o tempo de garoto quando cheirava cola com os moleques da rua. Caminhou na direção da Casa Amarela. Casa térrea com um grande terraço na frente. Lá, morava a garota linda que não conseguia esquecer. Loura, queimada de Sol, riso debochado, cujos dezessete anos freqüentava suas fantasias solitárias. Mas tinha estranho respeito por ela. Talvez pela autoridade que sua mãe transmitia. Quando pelas ruas cruzava com ela, que nem sequer notava sua existência, Juca sentia um frio na barriga que não conseguia explicar.
Naquela tarde, por detrás da Casa Amarela, gigantesca bola vermelha no horizonte trouxe, num relance, a lembrança das tintas com seu cheiro perturbador. Ao passar pela casa ouviu a voz retumbante da poderosa mulher:
- Aninha, me traga a toalha que ficou em cima da minha cama!
Juca sentiu um “negócio esquisito". Entrou pelo terreno ao lado procurando não ser notado. Um tremor tomou conta do seu corpo e a excitação quase o fez perder o controle. Pela janela de um dos quartos com a luz apagada, pode ver a porta do banheiro entreaberta, por onde através de nuvem de vapor um grande espelho iluminado refletia o perfil embaçado de mulher nua. Juca mal conseguia respirar. A luz do quarto foi acesa. Um corpo monumental entrou enxugando os cabelos. Foi um momento de êxtase. A bela mulher estendeu uma toalha vermelha sobre a janela e retornou ao banheiro. Pouco depois voltou ainda nua e sobre a toalha colocou uma calcinha de seda preta. Parou diante do espelho da penteadeira, onde passou algum tempo a ajeitar os cabelos molhados e tornou a desaparecer no vapor. O rapaz ficou atordoado. Queria que o tempo tivesse parado. Tentava relembrar tudo o que havia visto e ainda tremia muito quando sentiu a cueca empapada. Movido por estranho comando pulou a cerca viva que o separava da janela, pegou a calcinha molhada, que num relance, guardou debaixo da camiseta. Vencendo novamente a cerca correu sem parar com o coração quase explodindo. Já na rua, sentindo segurança tirou a calcinha de junto do peito, colocou-a sobre o rosto e curtindo o cheiro de gente rica que o sabonete havia deixado desandou a gargalhar de felicidade. Tinha vontade de voltar. Queria ver de novo o corpo nu daquela mulher maravilhosa. Queria ter certeza de que não havia sido um sonho. Deitou em sua cama no cubículo onde morava só e levantando o troféu de seda preta sentiu pela primeira vez uma sensação de conquista. Aquela calcinha lhe pertencia.
Na manhã seguinte acordou bem cedo. Precisava terminar a pintura do carro vermelho. Evitou passar pela casa Amarela. A casa da Aninha, de quem agora sabia o nome. Parecia ter cometido uma traição. Justo a calcinha da sua mãe! Um certo remorso ficou a perturbá-lo naquela manhã. Ao longo do dia o cheiro das tintas provocando alguma confusão em sua mente trazia a lembrança da aventura do dia anterior. Um misto de sonho e desejo. Mais uma vez aquela sensação esquisita que fazia com que perdesse totalmente o senso. Sua excitação foi tanta que por duas vezes se refugiou no banheiro da oficina. Numa delas gemeu tão alto quando gozava que seu patrão do lado de fora perguntou se estava passando bem:
- Não é nada não. É a barriga que anda meio atrapalhada.
No fim da tarde, o céu foi encoberto por nuvens de chuva que acabaram por desabar sobre a cidade. A expectativa de voltar à Casa Amarela ia água abaixo. Literalmente. Melhor apanhar o ônibus. Lotado. Depois de passar a duras penas pela catraca do cobrador conseguiu um ponto de equilíbrio ao lado de duas noviças, acompanhantes de uma freira, que sentada, se concentrava num pequeno livro. Uma das noviças, morena de cara bonita, ao vê-lo abriu um grande sorriso. Tão insinuante que Juca ficou desconcertado. Com o chacoalhar do ônibus ela foi chegando. Se encaixou de bunda e o espremeu contra o ferro de um dos bancos com tal força que chegou a machucar suas costas. A primeira reação, apesar da dor, foi se desculpar, tentar sair daquela prensa, mas a moça se esfregando cada vez mais acintosamente não o deixava sair. No princípio ficou com medo que outros passageiros pensassem que era ele a encoxar a noviça. Foi quando o tal "negócio esquisito" tomou conta de sua cabeça. Com cuidado para que ninguém notasse, levantou o hábito da garota, meteu a mão entre as suas pernas e foi subindo até ter sua bunda na palma da mão. Sentiu a calcinha da agora assustada e excitada noviça e com um puxão arrancou a peça que um relance, entre o ruído de tecido rasgado e o estalo do elástico se rompendo foi parar no seu bolso. A noviça se afastou procurando dissimular a surpresa com um sorriso indecifrável. Algumas paradas depois elas desceram. Entre risos e gritinhos nervosos das meninas as três se perderam no aguaceiro. Aproximou a calcinha do rosto como se fosse um lenço e curtiu o cheiro íntimo da morena.
Sábado, dia sem atrativos. A noite pior ainda para quem não tem amigos. Costumava se perder na multidão que ocupava a praça da Matriz. De vez em quando dava umas voltas pela zona. Só para paquerar. Até chegava a se divertir fingindo negociar com as putas. Mas não tinha coragem de transar. Morria de medo de pegar doença, tanto a mãe o alertara dos perigos da vida liberada. Órfão de pai, pressionado pela super proteção da mãe, sempre viveu isolado. A solidão na verdade não o incomodava. A liberdade o fazia feliz. Quando às vezes ficava impressionado por alguma garota sentia certa melancolia. Mas a timidez criara uma barreira que não conseguiria romper. Quase sempre nas noites de sábado, depois de algumas voltas pela cidade ia para o seu barraco conviver com seus fetiches.
Aquele não parecia ser diferente. Acordou tarde e saiu sem destino. Uma grande armação levantada num terreno próximo ao centro chamou sua atenção. Um imenso palco. Anunciavam para aquela noite a apresentação de famosa dupla caipira. Como qualquer coisa que quebra a rotina de uma cidade pequena a curiosidade era geral. Uma quase multidão acompanhava o trabalho da montagem. Grandes caixas de som testadas faziam prever o alvoroço que iria acontecer no pedaço. Câmeras colocadas em altas torres eram ligadas a imenso carro com as cores e a marca de importante rede de televisão. Atrativo irresistível. Juca não conseguiu sair do local. Queria ficar bem perto dos artistas. O show estava marcado para as oito da noite, mas assim que foi escurecendo uma quantidade de gente como ele nunca poderia ter imaginado tomou conta da praça. As pessoas se espremiam junto ao palco. Pouco antes das oito o aperto era sufocante, quase insuportável. Se quisesse sair não conseguiria mais. O empurra-empurra transformou aquela gente em maré humana que se agitava em ondas sem nexo, povoada de risos, gritinhos de deboche e histeria. Uma fumaça branca como neblina com cheiro de glicerina tomou conta do palco. Luzes. De um brilho nunca visto. A gritaria foi crescendo até que o som explodiu abafando o ruído da platéia maravilhada. Empurrado de um lado para outro Juca se deixava levar. Era impossível contrariar o movimento daquela massa humana. Na verdade achava até divertido. De vez em quando uma bunda mais volumosa passava. Era mão de todo lado. Aquela maré de gente ia se agitando e cantando ao ritmo das violas elétricas e dos refrões: "E se de dia a gente briga, de noite a gente se ama. É que as nossas diferenças acabam no quarto em cima da cama..." Foi quando um rosto conhecido apareceu por um instante no meio daquela zorra. Aninha. Aos empurrões Juca foi chegando mais perto. Ela e uma amiga curtiam o espetáculo. Com muita dificuldade Juca se aproximava. No palco, a música rolava: "Como é bonito ver deitado, ao nosso lado, o seu lingerie jogado sobre a minha calça jeans..." Depois de muito esforço conseguiu ficar bem atrás de Aninha que vestia uma mini-saia justa e provocante. Seus longos cabelos louros agitados ao ritmo das violas, vez por outra acariciavam o rosto do rapaz envolvendo-o com seu perfume. Jamais tinham estado tão perto. Chegaram a ficar com os corpos colados. Foi quando aquele “negócio esquisito” bateu de novo. Com o coração aos pulos, enfiou a mão debaixo da saia da loirinha que parecia não dar bola. Juca prosseguiu lentamente a apalpar as coxas da garota, agora excitado com a certeza que ela curtia. Até que parou de repente, como que atingido por um raio gelado nas entranhas. Naquele aperto e com certa facilidade a garota girou seu corpo ficando cara a cara com Juca absolutamente estático. Aninha encarou profundamente a alma do espantado rapaz como que sabendo que ali estava quem levou a calcinha da sua mãe. Com gestos sensuais, numa dança provocante, Aninha se esfregou por alguns instantes no corpo petrificado de Juca. Em seguida, com uma gargalhada ruidosa e debochada puxou a amiga pelo braço e antes de se perder na multidão deixou um último olhar de desafio na direção do ainda aparvalhado e assustado rapaz, que acabava de constatar que Aninha...não usava calcinhas.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Novos Baianos FC

Convite
No Youtube procure por Solano Ribeiro e assista músicas que fazem parte do documentário "Novos Baianos FC" feito em 74 para a TV Alemã. Está com mais de 300 mil acessos. Vale lembrar do melhor momento do grupo baiano.

Ouça o programa "Solano Ribeiro e a Nova Música do Brasil", aos domingos a uma da tarde, pela Rádio Cultura AM - 1.200 Khz, e conheça as novidades da produção independente.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Chega de Saudade

É freqüente alguém dizer que meu passado foi brilhante, que abri espaço para que fossem escritas as páginas mais importantes na história da MPB. Essas pessoas, que ainda aplaudem o passado como presente, não sabem que quando presente, meu passado era o futuro e foram poucos naquele presente que acreditaram nos caminhos que eu indicava. Então eu fiz a história. Hoje, quando aponto e proponho mais uma vez o futuro, como no passado, olham com desconfiança e não acreditam quando afirmo que o futuro já está presente. Bem aqui, na nossa frente. Chega de saudade!

Solano Ribeiro

terça-feira, 15 de abril de 2008

Comunicar. [ do lat.communicare ]

Comunicar é:
1-Participar 2-Por em contato ou relação; estabelecer comunicação entre; ligar, unir 3-Fazer saber 4-Estabelecer relação 5-Transmitir, difundir 6-Pegar por contágio 7-Dar; conceder, doar 8-Conferir 9-Dar passagem 10-Entender-se, tratar 11-Convívio, conversação 12-Tornar-se comum,transmitir-se, propagar-se
13-Pegar 14-Travar ou manter entendimento; dialogar.

Futuro

Daqui a algum tempo a raça humana terá sido uma passagem trágica pelo planeta, que por certo sobreviverá. Só não haverá ninguém para lamentar a história.

domingo, 13 de abril de 2008

Tênis (para principiantes)

Tênis - Para principiantes

Tênis, o jogo que por causa do Guga ficou na moda, é uma espécie de ping-pong tamanho família. Só não é jogado em cima de uma mesa e quem o pratica usa sapatos que levam o nome do jogo. Mas o princípio é o mesmo, bater com uma raquete bem maior e cheia de cordas de nylon numa bolinha fazendo-a passar por sobre uma rede para cair nos limites indicados por algumas poucas linhas do outro lado, sempre procurando fazer com que o adversário, que em geral fica em linhas iguais e diretamente opostas, não consiga fazer com a bolinha nas suas linhas o que você tenta fazer com ela nas entre linhas do lado dele.
O tênis é o tipo de jogo inglês por excelência. O jogador nunca tem contato direto com o adversário, apesar da certeza de que ele esta lá, do outro lado. (os adversários dos ingleses estão sempre lá, do outro lado). Os tenistas jogam contra a rede, as linhas, os juizes, e a bolinha que sempre vem arremessada pela raquete do tenista que está do lado oposto. Existe o juiz de cadeira, que fica sentado um pouco acima dos jogadores e os juizes de linhas, um bando de atentos semi-agachados, cuja missão é dar um grito lancinante quando a bolinha cai fora do que costumam chamar de quadra e que às vezes levam tímidas vaias de sempre educadas platéias. Tênis é sinônimo de cavalheirismo.
Um bando de garotos bem comportados, movidos a promessas de que se não provocarem nenhuma gafe durante o jogo, no futuro poderão ser promovidos a juizes de linha para poder gritar à vontade quando a bola sair dos limites, ou mesmo se tornarem jogadores com chance de serem campeões, está a postos para apanhá-la e em seguida devolvê-la aos tenistas, homens ou mulheres de fino trato, que não podem passar pelo desconforto de sair catando bolinhas como se estivessem atrás de pintinhos amarelos desgarrados.
Ninguém jamais viu dois tenistas brigando. Na verdade isso seria uma deselegância impensável. Ele pode gritar a esmo, xingar a si mesmo, reclamar de eventuais decisões dos juizes, de cadeira ou de linha, quebrar a raquete ou até criticar o comportamento do público, mas jamais na história do tênis, algum jogador saiu às vias de fato com o seu adversário. A não ser através de sua assessoria. Questão de educação. A filosofia do jogo parece ser - “nem tudo está perdido” - ou seja, sempre será possível corrigir eventuais gafes. Também coisa de inglês.
Os tenistas, até bem pouco etnistas, tradição quebrada pelas simpáticas Williams Sisters, ficam o jogo todo tentando fazer com que a bolinha passe para o outro lado da rede, (que deve ser caríssima, pois traz a marca Mercedes Benz), sem deixar que saiam do limite imposto pelas linhas que formam a quadra, que por questão de economia também são utilizadas para jogos de duplas, o que faz com que existam linhas que valem e outras que não, como se fosse um jogo brasileiro. Mas os ingleses jamais as confundem.
A contagem, para os não iniciados, é um dos segredos mais bem guardados pelo império britânico. Outro é a graça que acham no jogo de Cricket. No tênis o primeiro ponto vale quinze, o segundo também quinze, o terceiro dez, e o quarto ninguém jamais saberá. Mas esse quarto e último ponto é o que pode decidir o que eles chamam de game, que não é o jogo todo como pode parecer numa tradução literal, mas apenas uma fração de um set e o jogador que ganhar seis games será considerado o vencedor do set. O set tem seis, “God shave the Queen”. As vezes no game acontece um empate nos quarenta pontos. Nesses casos, não basta chegar aquele número misterioso, pois será sempre necessária uma diferença de dois pontos que não tem nome específico. Quem conseguir um ponto a mais passa a ter uma “vantagem”. Se quem estiver sacando ganhar o ponto seguinte fazendo a diferença de dois pontos, terá feito um “game point” e será considerado o vencedor do tal game.
Mas se o outro ganhar depois de ter passado pela vantagem, terá conseguido um “break point” ou, quem sacou não levou. Teve o seu serviço quebrado.
Vai sair vencedor quem fechar o maior número de sets e ganhará cada set quem fizer com que o adversário perca mais games. Mas definitivamente o mais importante é quebrar o saque do oponente, ou seja, ganhar o game quando quem saca é o outro, pois é aí que está a graça do jogo. Sacou?
O jogador que saca tem uma certa vantagem, pois no primeiro saque também chamado de serviço, ele pode arriscar uma tremenda raquetada e não vai ter nenhum prejuízo se errar. Ele tem a chance de um segundo serviço, só que desta vez tem que acertar sob pena de cometer uma dupla falta, facilmente identificada pelo berro do juiz de linha - FAULT - que quando acontece em dois saques seguidos significa a perda de precioso ponto no game. Se o cara que saca perde mais pontos, ou seja, se quem está na frente é o jogador que não está sacando, a contagem é feita ao contrário; zero - quinze, zero - trinta, quinze - trinta e assim por diante, até que consiga chegar àquele número que jamais alguém saberá e então terá quebrado o serviço do outro. Para o cara que quebrou o serviço ganhar o set, basta não perder mais nenhum game quando estiver sacando que estará feita a diferença de dois pontos, sempre necessária.
Se não acontecer quebra de serviço o jogo vai de game em game, até que um dos tenistas ganhe seis deles. Mas o outro também pode ganhar seis games fazendo seis a seis no set, e aí teremos o “Tie Break”, para os ingleses a quebra do empate. No tie break, ganha quem chegar primeiro ao sétimo ponto, o que geralmente é fácil da gente ficar sabendo, pois é chamado de set point. Bom, isso se o adversário não chegar um ponto atrás, pois para ganhar no tie break também é preciso a tal diferença de dois pontos, o que às vezes faz com que a quebra de empate, ou desempate, termine com vinte sete para o que ganhou e vinte cinco para o que perdeu.
Parece confuso? Parece e é. Mas não na Inglaterra, país em cuja moeda até pouco tempo a soma de doze mais doze dava vinte, onde a mão de direção no trânsito é ao contrário, assim como o próprio volante, que lá é na direita. Se na Inglaterra você dirigir seu carro na mão que seria correta para um brasileiro leva uma multa desse tamanho, e em inglês. Isso se não tiver dado antes uma puta porrada.
O jogo de tênis tem três ou cinco sets, dependendo da importância do torneio. Alguns têm três sets na fase eliminatória e cinco na partida final, no geral um jogo que vale uma grana preta, mesmo pra quem perde. Nos jogos que tem três sets será vencedor quem ganhar dois deles e nos jogos com cinco, ganha quem fechar com vantagem três dos sets. Fácil não?
As partidas entre mulheres são em três sets para que não cansem demais. Mas já existe uma ONG defendendo o direito da mulher também jogar os cinco sets. As “vantagens” já citadas acontecem quando no game, set ou "Match point", um dos jogadores fica a um ponto de ganhar o tal game, set, ou match. Nos jogos com cinco sets, a vantagem é de quebra para quem assiste, pois poderá ir almoçar se quiser, tirar uma soneca ou até pegar um cinema porque quando voltar o jogo ainda vai estar rolando animado até que um dos jogadores consiga fazer o chamado “Match point”, o ponto do jogo. Nem sempre o ponto do jogo é o último a ser disputado, pois se quem estiver para fechar a partida perder o ponto do jogo vai ter que conseguir outro o que pode significar uma tremenda mão de obra até chegar de novo lá. Isso se o Match Point não for conseguido pelo adversário, o que acontece com freqüência. Ficou convencionado pelos ingleses, e o mundo inteiro aceitou, que perderá o jogo quem perder o tal de “Match point”.
De vez em quando no meio de uma partida os tenistas fazem uma pausa e sentados um de cada lado do juiz, que sempre estará lá em cima, aproveitam para pensar na vida e no pão que estão ganhando. Mas nessa hora, todos sem exceção, costumam enxugar o suor do rosto. Os jogadores aproveitam também para tomar um gole de água mineral ou de refrigerante energético com a marca de um dos vários patrocinadores do torneio. É aí que a televisão tem a oportunidade de faturar, colocando no ar os seus comerciais. Quase sempre quando termina o intervalo comercial o jogo já recomeçou. Mas ainda assim não vai ser problema saber o que está acontecendo, porque não terá acontecido nada muito diferente. Bom, às vezes você vai perceber que os jogadores trocaram de lado.


© Solano Ribeiro









domingo, 6 de abril de 2008

Motoqueiros: A Solução é simples

Motoqueiros... a solução é simples

Como a tolerância a uma infração aliada a interesses comerciais se transformou em problema social.

Quando da elaboração do atual Código Brasileiro de Trânsito, o artigo 56 do texto original proibia a passagem de motos entre os veículos em circulação. Como no mundo inteiro. A indústria da moto e seus revendedores, que não poderiam ficar à mercê de um simples artigo a atrapalhar o seu negócio de bilhões, através de lobies, e com provável “pedágio”, conseguiu cortar do texto final a obrigatoriedade da moto ocupar seu antigo espaço. Passou a ser permitido que trafegasse pelo corredor entre os carros. Foi o sinal verde para que o inferno se instalasse nas ruas das grandes cidades brasileiras. A partir de então, a frota cresceu de tal maneira que verdadeiro enxame de motoqueiros tomou conta das ruas sendo a maior responsável pela deterioração da qualidade do ar, pois poluem 32 vezes mais que os carros emitindo 13,8% do monóxido de carbono. Além da poluição sonora causada pelas irritantes buzinas. As estatísticas estão aí. Em artigo do Estadão, segundo dados da CET, o número de motociclistas mortos, só na cidade de São Paulo, em 2006 foi de 380, onde não são computados os que morrem nos hospitais, nem pedestres atropelados por motocicletas. Sem contar as centenas de casos que passam despercebidos, sendo notados apenas por aqueles que testemunham de perto a atividade do resgate a atrapalhar o seu caminho ou, pelo rádio, nas informações sobre o trânsito da cidade. São números inadmissíveis para um país civilizado. É nas ruas, no trânsito, que o cidadão mantém o seu contato mais íntimo com a organização da sua comunidade, com a eficiência do seu governo. Quantas vezes não ouvimos amigos citarem, cheios de admiração como exemplo de ordem e progresso, o rigor das leis de trânsito nos países por onde passaram. Mesmo tendo sido eles próprios admoestados ou até punidos, por alguma infração corriqueira cometida. O Código de Trânsito, no primeiro momento obteve o apoio da maioria da população, mas com o tempo foi desmoralizado pela falta da capacidade de administra-lo, ou como tudo neste país, foi deixado de ser levado a sério. Da mesma maneira que para disciplinar o uso dos espaços na propaganda ao ar livre com “tolerância zero” é preciso acabar com a guerra que se instalou nas grandes cidades simplesmente com a revisão do Código de trânsito fazendo voltar o artigo 56 que iria colocar motos e motoqueiros nos seus devidos lugares.

Solano Ribeiro
2008

O Ator do Ônibus 174

O ator do 174

Num primeiro momento, tanto eu, quanto Arnaldo Altman e Zeca Duarte, na sede paulista do Festival da Música Brasileira que preparávamos para a TV Globo tensos e frustrados pela impossibilidade de qualquer participação, torcíamos por um tiro que acabasse com o terrível assaltante, marcando o fim do sofrimento dos passageiros do ônibus 174. Cada oportunidade perdida pela exposição do alvo era lamentada como se, em estando lá, e com uma arma telescópica, haveríamos de ter liquidado o bandido. Parecíamos torcedores assistindo a um jogo macabro. Depois do suspense, com a cena do policial fantasiado ou, do fantasiado de policial, que sorrateiro se aproximou e atirou, aplausos gerais. Alívio. Viva a justiça feita no ar. Ao vivo. Ibope total. Depois dos comentários, uma certa frustração e a pergunta: Por que mataram o rapaz? Afinal, Sandro desceu do ônibus ao dar por encerrada a sua representação. Para nós, pior o depois, ao saber que quem morreu foi a menina. Ele nem sequer havia sido atingido. Foi morto no camburão por força de julgamento e sentença ditada e executada por quem tinha por dever leva-lo em segurança para responder por seu ato. Ato único, da primeira oportunidade que teve para exercer a sua verdadeira vocação. Sim. Sandro era um artista nato. Naquela tarde e ônibus, aproveitou a chance que o fracassado assalto lhe proporcionou. Sabendo estar ao vivo e a cores e em todos os canais, percebeu que poderia atuar e dirigir. Encenou o terror, dando instruções às suas coadjuvantes e figurantes. Criou roteiro e texto. É verdade que sua figura não era a de um personagem heróico em ação numa encenação de protesto por sua exclusão social. Com certeza nunca soube da existência do “Teatro do Oprimido” do Boal. Era mais chegado ao pastelão. Para um crítico atento, suas idas e vindas no interior do ônibus revelavam um personágem do cinema mudo. Um patético canastrão, enredado numa tragédia burlesca. Fosse em preto e branco, seu gestual e movimentação poderiam ser confundidos com cena chapliniana. Por saber de cinema, blefava que aquilo não era filme. As imagens de seus diálogos com as reféns, com momentos de alguma ternura, mais pareciam apelos de empenho e cumplicidade na encenação cujo epílogo já estava previsível. Não haveria final feliz. Sair do 174 era o encerramento do programa. Logo viria o Jornal Nacional e a novela das oito que estava habituado a não perder. Além do que devia estar com fome. Larica. Sem ameaçar ninguém, deu por encerrada a sua pantomima e desceu para entregar sua arma ao primeiro que a solicitasse. Porém lá, naquela calçada, ninguém havia entendido as sutilezas de seu enredo. E não aconteceram elogios, nem os aplausos esperava. Nem a crítica haveria de o entender.

Solano Ribeiro