Eugenia Melo e Castro

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Paixão Virtual

Em silêncio, vestiram lentamente as roupas espalhadas pelo chão da suíte do motel onde estiveram juntos pela primeira vez. Na tentativa de atenuar o clima pesado que substituiu o ardor que os envolveu assim que ficaram sos, Cláudia murmurou:
- A primeira vez é assim mesmo... Frustração. Calados durante todo o trajeto. Luiz Carlos a deixou no estacionamento do Shopping onde estava seu carro e seguiu sem entender como foi possível que nada de sua expectativa tivesse acontecido. O primeiro contato havia sido pela internet, num chat de bate papo. Logo apareceram pontos onde coincidiam preferências superficiais e optaram por estabelecer ligação virtual direta. Na troca de fotos a surpresa; eram belos, atraentes e cheios de vida. No começo, tiradas filosóficas, lindas imagens, poemas, músicas e frases recolhidas ou recebidas pela Internet. Com a liberdade crescendo, palavrões e piadas mais apimentadas. Logo cenas eróticas passaram a fazer parte dos e-mails. Entraram nas intimidades e em pouco tempo cada um conhecia os mínimos detalhes da vida do outro. Cada vez que respondia a um e-mail a excitação de Luiz Carlos era tal que a ereção passou a ser rotineira. Chegou ao orgasmo quando ao entrar nas sutilezas sobre as relações com seus pares, Claudia relatou a sua parte com riqueza de detalhes. Às vezes ficava tão perturbada que a única solução era masturbação. A relação se tornou a tal ponto intensa e obsessiva que um encontro era inevitável. Cláudia parou seu carro no estacionamento do Shopping indicado por Luiz Carlos que lá estava a espera. Sem qualquer palavra, depois de algum tempo olhos nos olhos, um beijo prolongado e cheio de desejos marcou o primeiro momento. Direto para o motel. O que teria acontecido? Como tanta promessa de fortes emoções havia esfriado a tal ponto de em poucos minutos estarem em silêncio sem ter o que fazer ou falar? Semanas sem mensagens, até que numa tarde Luiz Carlos recebeu e-mail com foto do celular de Claudia com careta num balão que dizia: "Olá!", Voltaram antigos apelos que foram se tornando cada vez mais obscenos, cheios de detalhes jamais imaginados por qualquer dos dois. Chegaram a enviar fotos de celulares com imagens de suas práticas solitárias. Decidiram tentar mais uma vez. Luiz Carlos sugeriu que cada um levasse seu lap-top. Encontro no mesmo Shopping. Ao longo do caminho até o motel, poucas palavras. Depois de ligados os aparelhos, um de cada lado da imensa cama da suíte trocaram mensagens por mais de uma hora. Subitamente arrancaram as roupas e com o mesmo ímpeto do primeiro encontro se entregaram com violência, num furor selvagem, sem limites, despudorado, que jamais julgaram possuir. Hoje moram juntos. Cada um em seu quarto. Todos os dias passam horas frente aos computadores. Uma vez por semana, dormem na mesma cama.

Solano Ribeiro
2008






Nenhum comentário: