Eugenia Melo e Castro

terça-feira, 15 de abril de 2008

Comunicar. [ do lat.communicare ]

Comunicar é:
1-Participar 2-Por em contato ou relação; estabelecer comunicação entre; ligar, unir 3-Fazer saber 4-Estabelecer relação 5-Transmitir, difundir 6-Pegar por contágio 7-Dar; conceder, doar 8-Conferir 9-Dar passagem 10-Entender-se, tratar 11-Convívio, conversação 12-Tornar-se comum,transmitir-se, propagar-se
13-Pegar 14-Travar ou manter entendimento; dialogar.

Futuro

Daqui a algum tempo a raça humana terá sido uma passagem trágica pelo planeta, que por certo sobreviverá. Só não haverá ninguém para lamentar a história.

domingo, 13 de abril de 2008

Tênis (para principiantes)

Tênis - Para principiantes

Tênis, o jogo que por causa do Guga ficou na moda, é uma espécie de ping-pong tamanho família. Só não é jogado em cima de uma mesa e quem o pratica usa sapatos que levam o nome do jogo. Mas o princípio é o mesmo, bater com uma raquete bem maior e cheia de cordas de nylon numa bolinha fazendo-a passar por sobre uma rede para cair nos limites indicados por algumas poucas linhas do outro lado, sempre procurando fazer com que o adversário, que em geral fica em linhas iguais e diretamente opostas, não consiga fazer com a bolinha nas suas linhas o que você tenta fazer com ela nas entre linhas do lado dele.
O tênis é o tipo de jogo inglês por excelência. O jogador nunca tem contato direto com o adversário, apesar da certeza de que ele esta lá, do outro lado. (os adversários dos ingleses estão sempre lá, do outro lado). Os tenistas jogam contra a rede, as linhas, os juizes, e a bolinha que sempre vem arremessada pela raquete do tenista que está do lado oposto. Existe o juiz de cadeira, que fica sentado um pouco acima dos jogadores e os juizes de linhas, um bando de atentos semi-agachados, cuja missão é dar um grito lancinante quando a bolinha cai fora do que costumam chamar de quadra e que às vezes levam tímidas vaias de sempre educadas platéias. Tênis é sinônimo de cavalheirismo.
Um bando de garotos bem comportados, movidos a promessas de que se não provocarem nenhuma gafe durante o jogo, no futuro poderão ser promovidos a juizes de linha para poder gritar à vontade quando a bola sair dos limites, ou mesmo se tornarem jogadores com chance de serem campeões, está a postos para apanhá-la e em seguida devolvê-la aos tenistas, homens ou mulheres de fino trato, que não podem passar pelo desconforto de sair catando bolinhas como se estivessem atrás de pintinhos amarelos desgarrados.
Ninguém jamais viu dois tenistas brigando. Na verdade isso seria uma deselegância impensável. Ele pode gritar a esmo, xingar a si mesmo, reclamar de eventuais decisões dos juizes, de cadeira ou de linha, quebrar a raquete ou até criticar o comportamento do público, mas jamais na história do tênis, algum jogador saiu às vias de fato com o seu adversário. A não ser através de sua assessoria. Questão de educação. A filosofia do jogo parece ser - “nem tudo está perdido” - ou seja, sempre será possível corrigir eventuais gafes. Também coisa de inglês.
Os tenistas, até bem pouco etnistas, tradição quebrada pelas simpáticas Williams Sisters, ficam o jogo todo tentando fazer com que a bolinha passe para o outro lado da rede, (que deve ser caríssima, pois traz a marca Mercedes Benz), sem deixar que saiam do limite imposto pelas linhas que formam a quadra, que por questão de economia também são utilizadas para jogos de duplas, o que faz com que existam linhas que valem e outras que não, como se fosse um jogo brasileiro. Mas os ingleses jamais as confundem.
A contagem, para os não iniciados, é um dos segredos mais bem guardados pelo império britânico. Outro é a graça que acham no jogo de Cricket. No tênis o primeiro ponto vale quinze, o segundo também quinze, o terceiro dez, e o quarto ninguém jamais saberá. Mas esse quarto e último ponto é o que pode decidir o que eles chamam de game, que não é o jogo todo como pode parecer numa tradução literal, mas apenas uma fração de um set e o jogador que ganhar seis games será considerado o vencedor do set. O set tem seis, “God shave the Queen”. As vezes no game acontece um empate nos quarenta pontos. Nesses casos, não basta chegar aquele número misterioso, pois será sempre necessária uma diferença de dois pontos que não tem nome específico. Quem conseguir um ponto a mais passa a ter uma “vantagem”. Se quem estiver sacando ganhar o ponto seguinte fazendo a diferença de dois pontos, terá feito um “game point” e será considerado o vencedor do tal game.
Mas se o outro ganhar depois de ter passado pela vantagem, terá conseguido um “break point” ou, quem sacou não levou. Teve o seu serviço quebrado.
Vai sair vencedor quem fechar o maior número de sets e ganhará cada set quem fizer com que o adversário perca mais games. Mas definitivamente o mais importante é quebrar o saque do oponente, ou seja, ganhar o game quando quem saca é o outro, pois é aí que está a graça do jogo. Sacou?
O jogador que saca tem uma certa vantagem, pois no primeiro saque também chamado de serviço, ele pode arriscar uma tremenda raquetada e não vai ter nenhum prejuízo se errar. Ele tem a chance de um segundo serviço, só que desta vez tem que acertar sob pena de cometer uma dupla falta, facilmente identificada pelo berro do juiz de linha - FAULT - que quando acontece em dois saques seguidos significa a perda de precioso ponto no game. Se o cara que saca perde mais pontos, ou seja, se quem está na frente é o jogador que não está sacando, a contagem é feita ao contrário; zero - quinze, zero - trinta, quinze - trinta e assim por diante, até que consiga chegar àquele número que jamais alguém saberá e então terá quebrado o serviço do outro. Para o cara que quebrou o serviço ganhar o set, basta não perder mais nenhum game quando estiver sacando que estará feita a diferença de dois pontos, sempre necessária.
Se não acontecer quebra de serviço o jogo vai de game em game, até que um dos tenistas ganhe seis deles. Mas o outro também pode ganhar seis games fazendo seis a seis no set, e aí teremos o “Tie Break”, para os ingleses a quebra do empate. No tie break, ganha quem chegar primeiro ao sétimo ponto, o que geralmente é fácil da gente ficar sabendo, pois é chamado de set point. Bom, isso se o adversário não chegar um ponto atrás, pois para ganhar no tie break também é preciso a tal diferença de dois pontos, o que às vezes faz com que a quebra de empate, ou desempate, termine com vinte sete para o que ganhou e vinte cinco para o que perdeu.
Parece confuso? Parece e é. Mas não na Inglaterra, país em cuja moeda até pouco tempo a soma de doze mais doze dava vinte, onde a mão de direção no trânsito é ao contrário, assim como o próprio volante, que lá é na direita. Se na Inglaterra você dirigir seu carro na mão que seria correta para um brasileiro leva uma multa desse tamanho, e em inglês. Isso se não tiver dado antes uma puta porrada.
O jogo de tênis tem três ou cinco sets, dependendo da importância do torneio. Alguns têm três sets na fase eliminatória e cinco na partida final, no geral um jogo que vale uma grana preta, mesmo pra quem perde. Nos jogos que tem três sets será vencedor quem ganhar dois deles e nos jogos com cinco, ganha quem fechar com vantagem três dos sets. Fácil não?
As partidas entre mulheres são em três sets para que não cansem demais. Mas já existe uma ONG defendendo o direito da mulher também jogar os cinco sets. As “vantagens” já citadas acontecem quando no game, set ou "Match point", um dos jogadores fica a um ponto de ganhar o tal game, set, ou match. Nos jogos com cinco sets, a vantagem é de quebra para quem assiste, pois poderá ir almoçar se quiser, tirar uma soneca ou até pegar um cinema porque quando voltar o jogo ainda vai estar rolando animado até que um dos jogadores consiga fazer o chamado “Match point”, o ponto do jogo. Nem sempre o ponto do jogo é o último a ser disputado, pois se quem estiver para fechar a partida perder o ponto do jogo vai ter que conseguir outro o que pode significar uma tremenda mão de obra até chegar de novo lá. Isso se o Match Point não for conseguido pelo adversário, o que acontece com freqüência. Ficou convencionado pelos ingleses, e o mundo inteiro aceitou, que perderá o jogo quem perder o tal de “Match point”.
De vez em quando no meio de uma partida os tenistas fazem uma pausa e sentados um de cada lado do juiz, que sempre estará lá em cima, aproveitam para pensar na vida e no pão que estão ganhando. Mas nessa hora, todos sem exceção, costumam enxugar o suor do rosto. Os jogadores aproveitam também para tomar um gole de água mineral ou de refrigerante energético com a marca de um dos vários patrocinadores do torneio. É aí que a televisão tem a oportunidade de faturar, colocando no ar os seus comerciais. Quase sempre quando termina o intervalo comercial o jogo já recomeçou. Mas ainda assim não vai ser problema saber o que está acontecendo, porque não terá acontecido nada muito diferente. Bom, às vezes você vai perceber que os jogadores trocaram de lado.


© Solano Ribeiro









domingo, 6 de abril de 2008

Motoqueiros: A Solução é simples

Motoqueiros... a solução é simples

Como a tolerância a uma infração aliada a interesses comerciais se transformou em problema social.

Quando da elaboração do atual Código Brasileiro de Trânsito, o artigo 56 do texto original proibia a passagem de motos entre os veículos em circulação. Como no mundo inteiro. A indústria da moto e seus revendedores, que não poderiam ficar à mercê de um simples artigo a atrapalhar o seu negócio de bilhões, através de lobies, e com provável “pedágio”, conseguiu cortar do texto final a obrigatoriedade da moto ocupar seu antigo espaço. Passou a ser permitido que trafegasse pelo corredor entre os carros. Foi o sinal verde para que o inferno se instalasse nas ruas das grandes cidades brasileiras. A partir de então, a frota cresceu de tal maneira que verdadeiro enxame de motoqueiros tomou conta das ruas sendo a maior responsável pela deterioração da qualidade do ar, pois poluem 32 vezes mais que os carros emitindo 13,8% do monóxido de carbono. Além da poluição sonora causada pelas irritantes buzinas. As estatísticas estão aí. Em artigo do Estadão, segundo dados da CET, o número de motociclistas mortos, só na cidade de São Paulo, em 2006 foi de 380, onde não são computados os que morrem nos hospitais, nem pedestres atropelados por motocicletas. Sem contar as centenas de casos que passam despercebidos, sendo notados apenas por aqueles que testemunham de perto a atividade do resgate a atrapalhar o seu caminho ou, pelo rádio, nas informações sobre o trânsito da cidade. São números inadmissíveis para um país civilizado. É nas ruas, no trânsito, que o cidadão mantém o seu contato mais íntimo com a organização da sua comunidade, com a eficiência do seu governo. Quantas vezes não ouvimos amigos citarem, cheios de admiração como exemplo de ordem e progresso, o rigor das leis de trânsito nos países por onde passaram. Mesmo tendo sido eles próprios admoestados ou até punidos, por alguma infração corriqueira cometida. O Código de Trânsito, no primeiro momento obteve o apoio da maioria da população, mas com o tempo foi desmoralizado pela falta da capacidade de administra-lo, ou como tudo neste país, foi deixado de ser levado a sério. Da mesma maneira que para disciplinar o uso dos espaços na propaganda ao ar livre com “tolerância zero” é preciso acabar com a guerra que se instalou nas grandes cidades simplesmente com a revisão do Código de trânsito fazendo voltar o artigo 56 que iria colocar motos e motoqueiros nos seus devidos lugares.

Solano Ribeiro
2008

O Ator do Ônibus 174

O ator do 174

Num primeiro momento, tanto eu, quanto Arnaldo Altman e Zeca Duarte, na sede paulista do Festival da Música Brasileira que preparávamos para a TV Globo tensos e frustrados pela impossibilidade de qualquer participação, torcíamos por um tiro que acabasse com o terrível assaltante, marcando o fim do sofrimento dos passageiros do ônibus 174. Cada oportunidade perdida pela exposição do alvo era lamentada como se, em estando lá, e com uma arma telescópica, haveríamos de ter liquidado o bandido. Parecíamos torcedores assistindo a um jogo macabro. Depois do suspense, com a cena do policial fantasiado ou, do fantasiado de policial, que sorrateiro se aproximou e atirou, aplausos gerais. Alívio. Viva a justiça feita no ar. Ao vivo. Ibope total. Depois dos comentários, uma certa frustração e a pergunta: Por que mataram o rapaz? Afinal, Sandro desceu do ônibus ao dar por encerrada a sua representação. Para nós, pior o depois, ao saber que quem morreu foi a menina. Ele nem sequer havia sido atingido. Foi morto no camburão por força de julgamento e sentença ditada e executada por quem tinha por dever leva-lo em segurança para responder por seu ato. Ato único, da primeira oportunidade que teve para exercer a sua verdadeira vocação. Sim. Sandro era um artista nato. Naquela tarde e ônibus, aproveitou a chance que o fracassado assalto lhe proporcionou. Sabendo estar ao vivo e a cores e em todos os canais, percebeu que poderia atuar e dirigir. Encenou o terror, dando instruções às suas coadjuvantes e figurantes. Criou roteiro e texto. É verdade que sua figura não era a de um personagem heróico em ação numa encenação de protesto por sua exclusão social. Com certeza nunca soube da existência do “Teatro do Oprimido” do Boal. Era mais chegado ao pastelão. Para um crítico atento, suas idas e vindas no interior do ônibus revelavam um personágem do cinema mudo. Um patético canastrão, enredado numa tragédia burlesca. Fosse em preto e branco, seu gestual e movimentação poderiam ser confundidos com cena chapliniana. Por saber de cinema, blefava que aquilo não era filme. As imagens de seus diálogos com as reféns, com momentos de alguma ternura, mais pareciam apelos de empenho e cumplicidade na encenação cujo epílogo já estava previsível. Não haveria final feliz. Sair do 174 era o encerramento do programa. Logo viria o Jornal Nacional e a novela das oito que estava habituado a não perder. Além do que devia estar com fome. Larica. Sem ameaçar ninguém, deu por encerrada a sua pantomima e desceu para entregar sua arma ao primeiro que a solicitasse. Porém lá, naquela calçada, ninguém havia entendido as sutilezas de seu enredo. E não aconteceram elogios, nem os aplausos esperava. Nem a crítica haveria de o entender.

Solano Ribeiro